São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Sindicato mapeia ocupações

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria (leste do Pará), Carlos Cabral, afirmou ontem que cerca de 30% dos invasores de fazendas na região não são sem-terra.
O levantamento foi feito pelos sindicatos de seis municípios. No início deste mês, eles reivindicaram ao ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) a criação de uma comissão para cadastrar e defender os sem-terra.
"O cadastramento visa a evitar que os clientes da reforma agrária sejam usados por grileiros profissionais, comerciantes e até funcionários públicos que financiam e usam os sem-terra para consolidar as invasões", disse Cabral.
Ele concorda que os sem-terra são usados como "massa de manobra" pelos grileiros, conforme afirmou anteontem à Folha o superintendente estadual do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), coronel da reserva do Exército Floriano Amorim.
O superintendente se referiu à invasão da fazenda São Francisco, em Eldorado do Carajás, a 140 km de Rio Maria, onde ocorreu conflito com morte na semana passada.
Vocação
O sindicalista disse que desconhece o caso da fazenda São Francisco. Mas, na sua avaliação, se na fazenda houver pessoas que se aproveitam das invasões, elas devem ser afastadas pelo Incra.
"Essas pessoas são acostumadas a 'grilar' e ocupar terra, criaram a indústria de invasões e fazem disso uma fonte de renda", disse Cabral.
Para ele, os verdadeiros clientes da reforma agrária são os trabalhadores rurais que trabalham nas fazendas como empregados, meeiros e arrendatários. "Eles têm vocação rural e precisam da terra como fonte de sobrevivência."
Em Rio Maria, o sindicalista informou que foram cadastradas 1.411 famílias de agricultores. Cabral prevê que, com o cadastramento, será possível evitar que agricultores já beneficiados sejam assentados em novos projetos.
Ocupação espontânea
O agente pastoral José Batista Afonso, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), da Igreja Católica, disse que os ocupantes da fazenda São Francisco são sem-terra.
"Trata-se de uma ocupação espontânea, sem vinculação com sindicatos ou com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)", disse Afonso.

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