São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Chega de dar moleza para a escória do mundo!

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Imagino que não exista pai ou mãe na Europa toda que não tenha perdido o sono com a morte de Julie Lejeune e Mélissa Russo, as meninas belgas de 8 anos abusadas sexualmente e abandonadas para morrer de fome no esconderijo da casa do eletricista desempregado, Marc Dutroux, 39.
As imagens da seca na Etiópia, anos atrás, que mostravam mães em desespero arrancando migalhas da boca de seus bebês para comer, são evidência de que morrer de fome é um dois piores suplícios que o ser humano pode passar.
Em "Down and Out in Paris and London" o escritor inglês George Orwell descreve a sensação da fome como uma dor abominável, coisa que você ou eu não podemos nem mesmo imaginar, caro leitor.
O osso duro de roer dessa história é que Marc Dutroux, o homem que manteve Julie e Mélissa presas em cativeiro por nove meses, cometeu o crime depois de ter sido colocado em liberdade condicional por bom comportamento, sem cumprir o terço mínimo de uma pena por abuso sexual de menores.
Parece óbvio que um pedófilo se comporte bem na prisão, onde está longe das presas. Mesmo assim, segundo o ministro de Justiça da Bélgica, Dutroux foi libertado antes do previsto porque, pasme, lá também as cadeias são superpopuladas.
Caso parecido ao de Dutroux é o do menor C.A.S., 16, chefe do bando que executou a estudante Adriana Ciola e o dentista José Roberto Tahan.
C.A.S., ou "Dedo Mole", como é conhecido pela facilidade que tem em apertar o gatilho, matou pela primeira vez aos 13 anos. Ficou internado na Febem durante um aninho. Agora, se condenado pelo crime do bar de Moema, irá cumprir só mais três anos.
Na delegacia, ele deu de bacana na frente dos repórteres. Perguntado se compreendia a gravidade do crime que praticou, ele respondeu: "Sou menor e só vou pensar nisso quando fizer 18 anos".
C.A.S. fuma, bebe, cheira pó, usa arma e dirige. Mas se escuda na mesma contradição de leis que, nos EUA, manda garotos de 18 anos para a guerra, mas não os deixa beber cerveja no bar.
Está na hora de rever essa questão da maioridade. Como, também, passou da hora de se admitir que é preciso, sim, construir novos presídios. Pelo visto, não só aqui, mas no mundo inteiro.

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