São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Tuberculose mata 40 milhões em 15 anos

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

A tuberculose matou 40 milhões de pessoas nos últimos 15 anos -40 vezes mais que a Aids nesse mesmo período. Equivale ao extermínio da população de um país como a Itália.
A tuberculose, no entanto, pode ser curada em seis meses a um custo entre R$ 50 a R$ 80, 15 vezes menos que um coquetel de drogas para um doente de Aids durante um ano.
Uma política de saúde pública poderia evitar o genocídio que a doença vem provocando.
"As pessoas estão morrendo por omissão dos governos e da sociedade", disse o professor norte-americano Richard Chaisson, diretor do hospital Johns Hopkins e da Clínica de Tuberculose da cidade de Baltimore (Estados Unidos).
Chaisson falou ontem no 9º Congresso Brasileiro de Infectologia, que acontece no Recife.
Para ele, as mortes por tuberculose "são um escândalo, um crime internacional".
"Desta vez não podemos culpar a natureza. São os governos que não investem e não desenvolvem programas."
América Latina
Estudos da Organização Mundial da Saúde estimam que, entre 1990 e 1999, 88 milhões de pessoas pegaram ou vão pegar tuberculose. Desse total, 6 milhões estão na América Latina.
Segundo Chaisson, um quarto das mortes nos países subdesenvolvidos -entre pessoas até 60 anos- é provocado pela tuberculose. "É a infecção que mais mata no mundo", diz.
O quadro só tende a piorar com o Aids. Hoje, 10% de todas as tuberculoses estão associadas às manifestações do vírus HIV.
Debilitado e medicado de forma incorreta, o doente tende a desenvolver subtipos de bacilos mais resistentes e letais.
A cura da tuberculose, no entanto, já existe há 40 anos e está entre as mais baratas.
A própria OMS afirma que os programas de controle e combate ao bacilo da tuberculose são os que oferecem a melhor relação custo-benefício.
Em Nova York, onde a doença se espalhava quase sem controle, o governo investiu US$ 100 milhões em um programa de vários anos. De 1990 a 1995, o número de casos caiu pela metade.
"Não há nenhum segredo. Basta comprar os remédios e formar profissionais que acompanharão os tratamentos", diz Chaisson.
Baltimore, por exemplo, treinou equipes que visitam diariamente o paciente para checar se tomou o remédio. Quando o tratamento é abandonado e o doente tem uma recaída, a cura fica muito mais cara e difícil.

O jornalista Aureliano Biancarelli viajou a Recife a convite do laboratório Abbott

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