São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A macro e a microeconomia do emprego

JORGE JATOBÁ

O viés ideológico, especialmente em um ano eleitoral, tem turvado a habilidade de certas correntes do pensamento econômico brasileiro para entender o sentido de algumas propostas de combate ao desemprego.
Tenho argumentado que, no setor moderno da economia, os aumentos de produtividade estão amortecendo os efeitos positivos do crescimento do produto sobre o emprego.
Esse fato é reconhecido entre empresários, sindicalistas, especialistas e todos os cidadãos que lêem regularmente os jornais.
Caracterizo esse fenômeno como a perda de importância da "macroeconomia do emprego", ou seja, para obtermos uma mesma expansão relativa do emprego precisamos, em comparação com a nossa experiência passada, de maiores taxas de crescimento do produto.
Sugiro, por conseguinte, que a luta pelo emprego seja estendida também ao chão da fábrica, sendo necessário, portanto, fortalecer os sindicatos e a negociação coletiva. A essa ação denomino "microeconomia do emprego".
Essa proposta foi mal-ententida por alguns economistas.
Em primeiro lugar, sendo keynesiano não compartilho do argumento que as políticas macroeconômicas já não podem favorecer a geração de empregos.
A condução da política macroeconômica pode, nitidamente, aumentar ou reduzir o emprego.
Do lado positivo, argumento que a consolidação da política macroeconômica de estabilização é essencial para assegurar o crescimento sustentado da economia e do emprego, a despeito do menor impacto do primeiro sobre o segundo.
Do negativo, reconheço que o ajuste macroeconômico que o governo teve que aplicar no ano passado teve efeitos adversos sobre o nível de ocupação no setor formal do mercado de trabalho.
Em segundo lugar, a luta contra o desemprego não pode ser reduzida à proposta de fortalecer os sindicatos trabalhistas e a negociação coletiva.
O crescimento da economia e o manejo da política macroeconômica são relevantes para a geração de empregos.
Isso, apesar de os novos paradigmas tecnológicos, organizacionais e gerenciais terem reduzido o impacto do crescimento econômico sobre a ocupação no setor moderno e de a globalização ter retirado parte da autonomia dos governos nacionais na sua capacidade de conduzir as políticas macroeconômicas.
As propostas de fotalecimento dos sindicatos e da negociação coletiva constituem-se numa estratégia adicional na luta da sociedade contra o desemprego.
Aliás, membros do PT e assessores do movimento sindical, sabem que essas propostas são reivindicações históricas das centrais de trabalhadores, especialmente da CUT.
É sempre difícil um debate isento de paixões em um ano eleitoral. Especialmente quando alguns economistas aparentando veicular uma crítica isenta, de natureza acadêmica, estão, de fato, oferecendo uma visão ideológica e política da questão.
Nada o opor. Porém, devemos deixar claro onde nos situamos. Eu estou no governo.

Texto Anterior: Mercado aquecido; Linha branca; Importados da China; Na concorrência; Especulação recorrente; Prejuízo estatal; Voando alto; Ásia na frente; Livro de história; Legalização descomplicada; Sem burocracia; Azul do mês; "CBF Games"; Gás exclusivo; Mercado lucrativo; Aposta nas vendas; À moda antiga
Próximo Texto: A força da pequena empresa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.