São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996 |
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O jazz morreu?
SYLVIA COLOMBO
Há alguns anos que festivais do gênero na Europa e nos EUA vêm adotando uma postura flexível na hora de conceber a programação. Cada vez mais o pop, a dance e a world music e o rock invadem a praia dos jazzistas. O mais radical é o de Montreaux, que mistura estilos sem compromisso com o rigor da forma numa festa que acaba em axé e faz de tudo para agradar a "todas as tribos". O exemplo contrário é o JVC, de Nova York, reduto dos puristas do gênero. Aniversário Prestes a completar 80 anos, o jazz -que "nasceu" no dia 30.01.1917 quando a Original Dixieland Jazz Band entrou num estúdio de Nova York- depara-se com uma verdadeira "invasão" de seu espaço vital: a apresentação ao vivo. Os festivais são hoje palco de uma miscelânea de estilos. Será que o jazz morreu? Ou será que não consegue mais atrair público sozinho? A produtora Monique Gardenberg, organizadora do Free Jazz acha que este ecletismo é uma tendência do próprio estilo. "Qualquer ortodoxia é asfixiante", diz. O músico Paulo Moura já é mais pessimista. "As rádios não tocam jazz, estão matando-o. Aí quem organiza os festivais tem que chamar os roqueiros, senão o público não vai", desabafa. Em seu décimo ano de existência, o Free Jazz Festival faz sua aposta mais clara na diversidade. Traz o africano Salif Keita, a nova coqueluche da chamada world music. Isaac Hayes é outro exemplo, soulman da estirpe de Otis Reding e Wilson Pickett. A dance music também "invadiu" a praia do jazz. O 808 State -o nome vem de uma bateria eletrônica- é resultado de encontro do rock progressivo com new age, abusa de teclados e experimenta fusão musical de influências como Brian Eno e John Coltrane. Já a islandesa Bjõrk, que tem tradição roqueira trazida da banda Sugarcubes, namora com a dance music e a new wave desde seu último álbum, "Post". O James Taylor Quartet e o incógnito são os representantes do acid jazz, Me'Shell Ndegéocello, do hip hop, enquanto George Clinton mistura funk e rap. Referenciais O saxofonista Charlie Parker morreu em 55. O trompetista Dizzy Gillespie, em 93. O pianista Thelonius Monk, em 1982, e Duke Ellington, em 1974. A verdade é que a maioria dos grandes nomes do jazz morreu e não parece ter sido substituída por um time à altura. Hoje, Wynton Marsalis, Joshua Redman e Christian McBride representam uma nova geração de jazzistas talentosos, mas que mantiveram vínculo com o gênero sem mantê-lo puro. O jazz sempre foi um estilo mutante pela versatilidade de sua estrutura, sempre marcada pela improvisação melódica. Nascido da fusão de melodia e harmonia de gêneros ocidentais com ritmos africanos, o jazz já foi dançante, introspectivo e orquestral. A Folha colheu depoimentos sobre a tendência dos festivais de jazz de se tornarem cada vez mais ecléticos. Leia dois deles a seguir. Próximo Texto: Mistura pode estragar atmosfera Índice |
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