São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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O jazz morreu?

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Uma rápida olhadela na programação do próximo Free Jazz Festival, que acontece de 10 a 12 de outubro em São Paulo e de 11 a 13 de outubro no Rio de Janeiro basta para constatar: isso não é um festival de jazz. Ou, pelo menos, não é só de jazz.
Há alguns anos que festivais do gênero na Europa e nos EUA vêm adotando uma postura flexível na hora de conceber a programação. Cada vez mais o pop, a dance e a world music e o rock invadem a praia dos jazzistas.
O mais radical é o de Montreaux, que mistura estilos sem compromisso com o rigor da forma numa festa que acaba em axé e faz de tudo para agradar a "todas as tribos". O exemplo contrário é o JVC, de Nova York, reduto dos puristas do gênero.
Aniversário
Prestes a completar 80 anos, o jazz -que "nasceu" no dia 30.01.1917 quando a Original Dixieland Jazz Band entrou num estúdio de Nova York- depara-se com uma verdadeira "invasão" de seu espaço vital: a apresentação ao vivo. Os festivais são hoje palco de uma miscelânea de estilos.
Será que o jazz morreu? Ou será que não consegue mais atrair público sozinho?
A produtora Monique Gardenberg, organizadora do Free Jazz acha que este ecletismo é uma tendência do próprio estilo. "Qualquer ortodoxia é asfixiante", diz.
O músico Paulo Moura já é mais pessimista. "As rádios não tocam jazz, estão matando-o. Aí quem organiza os festivais tem que chamar os roqueiros, senão o público não vai", desabafa.
Em seu décimo ano de existência, o Free Jazz Festival faz sua aposta mais clara na diversidade.
Traz o africano Salif Keita, a nova coqueluche da chamada world music. Isaac Hayes é outro exemplo, soulman da estirpe de Otis Reding e Wilson Pickett.
A dance music também "invadiu" a praia do jazz. O 808 State -o nome vem de uma bateria eletrônica- é resultado de encontro do rock progressivo com new age, abusa de teclados e experimenta fusão musical de influências como Brian Eno e John Coltrane.
Já a islandesa Bjõrk, que tem tradição roqueira trazida da banda Sugarcubes, namora com a dance music e a new wave desde seu último álbum, "Post".
O James Taylor Quartet e o incógnito são os representantes do acid jazz, Me'Shell Ndegéocello, do hip hop, enquanto George Clinton mistura funk e rap.
Referenciais
O saxofonista Charlie Parker morreu em 55. O trompetista Dizzy Gillespie, em 93. O pianista Thelonius Monk, em 1982, e Duke Ellington, em 1974.
A verdade é que a maioria dos grandes nomes do jazz morreu e não parece ter sido substituída por um time à altura.
Hoje, Wynton Marsalis, Joshua Redman e Christian McBride representam uma nova geração de jazzistas talentosos, mas que mantiveram vínculo com o gênero sem mantê-lo puro.
O jazz sempre foi um estilo mutante pela versatilidade de sua estrutura, sempre marcada pela improvisação melódica. Nascido da fusão de melodia e harmonia de gêneros ocidentais com ritmos africanos, o jazz já foi dançante, introspectivo e orquestral.
A Folha colheu depoimentos sobre a tendência dos festivais de jazz de se tornarem cada vez mais ecléticos. Leia dois deles a seguir.

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