São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Giannotti ataca os 'teólogos' marxistas

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O filósofo José Arthur Giannotti, presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), defendeu anteontem, durante a conferência de abertura do seminário "150 Anos - À Ideologia Alemã", na Faculdade de Filosofia da USP, que "a tradição marxista é, em grande parte, a negação da genialidade de Marx".
Segundo ele, a grandeza de Marx está em não ter conseguido resolver, no interior da sua obra, os problemas que ele mesmo colocou. "Os grandes filósofos são grandes porque falham, planejam grandes cidades e falham na sua execução", disse Giannotti.
Tomando a lógica como fio condutor de sua fala, Giannotti partiu de Aristóteles e passou por Hegel para chegar a Marx. Diante de mais de 200 pessoas, na maioria estudantes de filosofia, disse que estava "falando essas coisas esdrúxulas para assustar e mostrar que Hegel era um grande lógico".
Reportando-se então aos textos de Marx, Giannotti disse que o autor de "O Capital" deixou como herança "uma batata quente" porque tratou de implodir, ele mesmo, a pedra fundamental de sua teoria, que é a lei do valor. "Marx escreve que a autonomização do processo tecnológico implode a lei do valor. Ele não resolve a contradição entre relações sociais de produção e forças produtivas e deixa seu sistema inacabado".
É por terem desconsiderado esse problema lógico no interior da obra de Marx que muitos marxistas, como Theodor Adorno e Walter Benjamin, prosseguiu Giannotti, comportam-se não como filósofos, mas como "teólogos".
A sua insistência em retomar desafios lógicos da obra de Marx provocou reações da platéia. A maior divergência surgiu quando o filósofo Paulo Arantes tomou a palavra.
"Giannotti, você está sugerindo que existe um problema lógico prévio sem a solução do qual nós estamos indefesos diante do capital. Assim você desarma a crítica e fica nos devendo uma análise do capitalismo em sua fase atual. Da sua fala, fica a falsa impressão de que você está fazendo a apologia do status quo", disse Arantes.
Giannotti rebateu dizendo que Arantes é "unitarista". "Pensar que a cultura tenha como matriz um único problema é equivocado", disse.
"Eu tentei mostrar a importância da lógica para se entender a obra de Marx. Não quis fazer a análise do capitalismo contemporâneo. Se fizesse isso, faria no máximo jornalismo sobre o capitalismo, mas não análise", concluiu Giannotti.

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