São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Kirov traz nova geração ao Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Ballet Kirov, fundado em 1860 em São Petersburgo, na época capital imperial da Rússia, nunca veio completo ao Brasil. No próximo dia 19 de outubro, a legendária companhia desembarca em Curitiba com suas principais estrelas, para uma turnê por sete capitais brasileiras.
Depois da estréia no teatro Guaíra, de Curitiba (PR), o Kirov segue para São Paulo, onde se apresenta de 22 a 27 de outubro, no Teatro Municipal.
Reunindo 220 pessoas, entre elenco e técnicos, o grupo que excursiona pelo país está exigindo um investimento de cerca de US$ 2,5 milhões da Dell'Arte, empresa que há 12 anos tenta trazer o Kirov ao Brasil.
Um dos pilares da dança clássica no mundo, o Kirov gerou algumas das maiores estrelas deste século. Anna Pavlova, Vaslav Nijinsky, Rudolf Nureyev, Natalia Makarova, Mikhail Baryshnikov são alguns dos nomes que deram seus primeiros passos na companhia.
Hoje, ainda exibindo um elenco de técnica imbatível, o Kirov chega ao Brasil com uma nova geração de virtuoses, que prometem deixar seus difíceis nomes gravados na memória do público.
Lopatkina
Se no passado pronunciava-se Olga Preobrajenska ou Natalia Dudinskaya com naturalidade, agora é a vez de se referir, por exemplo, a Ouiliana Lopatkina, uma ruiva de 22 anos, que em São Petersburgo é ídolo pop com enorme fã-clube.
Como a maioria dos bailarinos russos, Lopatkina frequentava na infância os clubes de dança mantidos pelo governo. Tinha seis anos quando suas aptidões começaram a despertar atenção.
Convencidos do talento da filha, os pais de Lopatkina a matricularam na Escola Vaganova, onde se forma a maioria dos bailarinos do Kirov. Graduada em 1991, ela logo ingressou no elenco principal, para brilhar nos melhores papéis do repertório da companhia.
"Sucesso significa responsabilidade", afirma Lopatkina. Trabalhadora incansável, Lopatkina afirma que 99% de seu sucesso é consequência do esforço cotidiano e das lições aprendidas com os professores russos que, mesmo impondo uma disciplina ditatorial, são venerados pelos alunos.
Vishneva e Voloshkova
Outra estrela em ascensão no Kirov é Diana Vishneva, que apesar de seus 19 anos interpreta heroínas seculares com toda a carga dramática necessária.
Moldadas no melhor estilo acadêmico, as novas bailarinas do Kirov garantem que estão satisfeitas em dançar no Kirov. "Aqui temos o repertório clássico mais rico do mundo", justifica Vishneva, acrescentando que não pensa em seguir carreira no Ocidente.
Opinião idêntica tem Anastasia Voloshkova, 20, cujos cuidados com a aparência já lhe renderam o apelido de "Barbie". Admitida no Kirov depois de dançar "O Lago dos Cisnes" num teste, ostenta hoje um currículo compatível com os das grandes estrelas do passado.
Para Voloshkova, obras como "Pássaro de Fogo", "A Bela Adormecida", "Giselle" e "La Bayadre" são triviais num cotidiano de apresentações diárias para um público cujo hábito de frequentar balés é tão corriqueiro quanto a ida a estádios de futebol.
Na ala masculina do Kirov, a estrela do momento é Faruk Ruzimatov, um tártaro (como Nureyev) nascido na cidadezinha de Tashkent, em 1963. Típico bailarino russo, que ao dançar não economiza energia e emoção, Ruzimatov costuma empolgar platéias.
Capaz de ofuscar companheiros de elenco igualmente treinados, Ruzimatov também vem brilhando como convidado de companhias ocidentais, como o American Ballet Theatre, de Nova York.

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