São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996 |
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Não mais que fruto perecível
GUGA STROETER
O jazz morreu? É difícil dizer. Louis Armstrong afirmou que o jazz não é um "quê", o jazz é um "como". É um procedimento e não um objeto. Mas tudo passa sobre a Terra. E o jazz não deixa de ser um nome, um rótulo perecível como as frutas e os homens. No momento posterior, surge um artista que, independentemente de seu desejo, já está criando algo ligeira ou essencialmente diferente daquilo que o nome circunscreve. Isso não tem nada de saudosista. É necessário que cada um de nós desapareça para que nossos filhos possam crescer. Em sua coletiva de ensaios "Os Testamentos Traídos", Milan Kundera observa que o novo substitui o antigo, sem que obrigatoriamente a novidade seja qualitativamente superior à prática antecedente. Irresponsavelmente, posso arriscar afirmar que o jazz "sem aspas" morreu. Porque morreram Ellington, Armstrong, Monk, Coltrane, Miles Davis; e os jovens -os jovens apaixonados por esses mestres- não têm culpa disso. Não abro mão da trilha sonora da minha vida, o jazz. Porque quando alguém combina as melhores informações disponíveis a seu tempo e demonstra a viabilidade de um novo resultado, está ampliando o horizonte da percepção das possibilidades humanas, e o mundo fica diferente, fica melhor. Essas melodias soarão sempre inusitadas, tenham 15 minutos ou 1500 anos. O Free Jazz contém algum excelente jazz, mas não apenas isso. Afinal de contas, o jazz morreu mas passa bem. Jovens como Christian McBride e o ninfeto estagiário Sergio Salvatore são talentos musicais legítimos. Deixemos de devaneios e voltemos ao tema da polêmica. Quem matou? Quem morreu? Pouco importa, antes ele do que eu..., porque a vida, até onde meus medos me confessam, é cheia de sons e ruídos. A morte, o resto, é silêncio. Texto Anterior: Mistura pode estragar atmosfera Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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