São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Doce desemprego

GILBERTO DIMENSTEIN

A proteção ao desempregado na Suécia seria uma conquista para os americanos e um paraíso para os brasileiros -mas os suecos reclamam.
Com as novas mudanças, criticadas pelos sindicatos, o trabalhador tem agora um ano para encontrar emprego.
Até lá, ganha 75% de seu salário, o que significa, no mínimo, US$ 1,5 mil mensais.
Além do salário-desemprego, ele recebe ajuda para pagar aluguel, ganha US$ 100 por cada filho, não paga médico, dentista, nem, se precisar, tratamento psicológico; os filhos dispõem de excelentes escolas públicas.
Os desempregados são convidados a participar de cursos de reciclagem profissional para que se coloquem no mercado.
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O paraíso sueco apenas reforça o inferno brasileiro, onde foi apresentado como conquista ligeira a extensão do seguro-desemprego.
Aliás, uma medida que teve por objetivo garantir emprego para pelo menos uma pessoa, o candidato José Serra.
Estocolmo tem um índice de desemprego ainda maior do que o dos grandes centros urbanos brasileiros, chegando a 13%. Mas, comparado ao Brasil, é um problema socialmente quase desprezível.
Ambos os desempregados, brasileiros e suecos, despencam das alturas, mas na Suécia eles amortecem a queda em uma cama elástica.
O desemprego brasileiro entra direto na veia. Se não apelar para uma reserva (e muita gente não tem), o indivíduo coloca no dia seguinte um pé na miséria.
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A Suécia mostra o tamanho gigantesco do desafio brasileiro. Mas eles têm uma população de apenas 8,5 milhões, 2.500 empresas multinacionais, dominam tecnologia sofisticada.
É um país politicamente calmo, alto nível educacional, os partidos são sólidos, bem mais fiscalizados pelo cidadão.
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O Brasil nem tem partidos fortes, a taxa de irresponsabilidade no Congresso produz uma distância além do razoável entre o ideal e o real, perde-se tempo desnecessariamente com leis que emperram o crescimento e não deslancham. Os líderes sindicais e empresariais não são representativos e, em sua imensa maioria, não chamam a atenção da opinião pública.
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Apesar de todas as vantagens, a Suécia mostra nas ruas manchas provocadas pelo desemprego combinado com a falta de recursos oficiais.
Em volta do cemitério, pessoas dormem no chão e por algumas ruas surgem mendigos. Claro que não são nada parecidos com os nossos mendigos. Ontem, vi um deles carregando uma placa em inglês (sem um único erro gramatical) pedindo, além da esmola, que os transeuntes não sujassem as ruas.
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PS - O Brasil está bem colocado na lista negra da exploração sexual de crianças no encontro de Estocolmo. Mas, ontem, a imagem brasileira foi ajudada por uma longa reportagem da TV CNN divulgada sobre uma experiência modelar em Santos.

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Fax (001-212)873-1045

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