São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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EUA propõem fazer listas de pedófilos

Nomes de acusados ficariam na Internet

GILBERTO DIMENSTEIN
DO ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO

Os Estados Unidos propuseram ontem uma lista negra contra os exploradores sexuais de crianças -os nomes dos acusados ficariam à disposição na Internet, a rede mundial de computadores, para serem consultados publicamente.
Depois de solto, caso o violador mudasse para outro bairro, cidade ou Estado, os moradores do local ficariam informados.
A proposta mostra que a assessoria do presidente Bill Clinton aproveitou ontem o encontro sobre prostituição infantil, em Estocolmo, capital da Suécia, para tentar reforçar sua imagem na eleição para a Casa Branca.
Uma das prioridades do marketing de Bill Clinton é tomar dos republicanos os "valores morais", apresentando-se como atento à "crise na família" e à desproteção das crianças, ameaçadas pelo crime e pela "promiscuidade" sexual.
"A idéia de Clinton tem cara de eleição presidencial. Você coloca o nome na lista e marca o indivíduo pelo resto da vida. E se ele se recuperar? Por que não colocar todos os tipos de criminosos?", comenta a escritora americana Sara Friedman, que está em Estocolmo.
Bandeiras republicanas
No esforço de tirar bandeiras dos republicanos, Clinton quer mostrar que é duro contra o crime -a prostituição infantil lhe dá chance de unir família, sexo e crime.
O tema já produziu soluções radicais, como, por exemplo, na Califórnia (Costa Oeste dos EUA), que é dominada pelos republicanos. Ali, ganhou força de castração química. Se reincidente em abuso de criança, o indivíduo receberia uma injeção que o deixaria impotente.
Diante da preocupação dos pais, o presidente Clinton apoiou uma ofensiva contra o uso de pornografia na Internet e a idéia de prender americanos que viajam ao exterior para "turismo sexual".
O encontro em Estocolmo atraiu ontem um número inesperado de jornalistas, obrigando dezenas de credenciamentos. É o reflexo do impacto do caso das duas meninas abusadas sexualmente e depois enterradas na Bélgica.
Os corpos foram descobertos semana passada e provocam crise na polícia belga e escândalo na Europa. Há suspeitas de que, por trás do desaparecimento de meninas e adolescentes no país, atue uma quadrilha com conexão na polícia (leia texto ao lado).
Ricos x pobres
Até o caso da Bélgica, a reunião sobre exploração sexual estava destinada a revelar apenas que os países pobres produziam as prostitutas crianças, entregando-as a moradores de países ricos.
Documentos produzidos pelas polícias mostram conexões de tráfico que saem da Ásia, América Latina, África e Europa Oriental para a Europa Ocidental, EUA e Canadá -estima-se que, por ano, 1 milhão de mulheres sejam traficadas.
As belgas de oito anos trouxeram a mancha para dentro da Europa, para um de seus países mais prósperos, indicando quadrilhas protegidas pelo poder público ou pelo menos pela omissão policial.
Além dos requintes de sadismo no caso -as meninas foram mantidas por um ano em um quarto e morreram de fome-, a polícia belga não levou em conta pistas de que o suposto criminoso estaria praticando pedofilia.

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