São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Gestão Maluf prioriza obras viárias

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
MARIO CESAR CARVALHO

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez realizações ficam a menos de 10 km da casa do prefeito; gasto maior é no transporte individual

As 15 maiores obras viárias construídas pelo prefeito Paulo Maluf desde a sua posse até julho consumiram 53% de tudo o que foi investido pela Prefeitura de São Paulo na cidade nesse mesmo período.
Dessas obras, dez se localizam num raio de 10 km a partir da casa do prefeito, na região mais rica da cidade -onde entre 26% e 39% dos chefes de família ganham mais de R$ 2.240 por mês.
A soma de tudo o que foi gasto nesses túneis, viadutos e avenidas chega a cerca de R$ 3 bilhões. O valor preciso varia em função do índice usado para corrigir monetariamente os preços.
Atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC da Fipe-USP), que calcula a inflação na cidade de São Paulo, o total despendido nas 15 maiores obras viárias atinge R$ 3,196 bilhões.
A Folha também atualizou os preços segundo os índices Fipe para obras públicas, usados pelos governos estadual e municipais para corrigir o valor de seus contratos com os empreiteiros. A soma chegou a R$ 2,991 bilhões (veja no quadro ao lado).
Para se ter uma idéia do que representa este dinheiro, toda a verba empenhada pela prefeitura no Projeto Cingapura é de R$ 256 milhões. Dinheiro suficiente para construir 17.635 apartamentos.
Maior obra
Apenas o túnel sob o parque do Ibirapuera, a maior obra da gestão Maluf, consumiu R$ 746,5 milhões. Isto é: daria para construir três vezes mais Cingapuras -um ícone da campanha de Celso Pitta.
Em termos de custo/benefício, seriam 296 mil pessoas atendidas com uma casa própria. Quando estiver concluída a segunda parte do túnel Ayrton Senna, trafegarão sob o Ibirapuera 50 mil carros por dia, ou cerca de 75 mil pessoas.
Se fosse cobrar R$ 1,00 de pedágio de cada veículo que trafega pelo túnel, a prefeitura demoraria cerca de 40 anos para recuperar todo o dinheiro gasto na obra.
O custo do túnel é tão alto que equivale a cerca de 11,5 km de metrô, incluídas no preço oito estações de embarque e desembarque.
O valor do túnel é R$ 20 milhões menor do que os R$ 767,6 milhões obtidos pelo governo estadual concluir os ramais Leste e Paulista.
Quando as novas estações estiverem concluídas, o metrô paulistano transportará 350 mil passageiros a mais por dia.
A concentração de investimentos nas regiões sudoeste e central tem duas explicações: são áreas para onde converge grande parte do tráfego de veículos da cidade e, por consequência, dão maior visibilidade às obras.
Indicativo dessa preocupação do prefeito é o casamento das obras com o calendário eleitoral. Em 1994, ele investiu R$ 1,018 bilhão. Só até julho deste ano eleitoral, a prefeitura já havia dobrado seus investimentos: R$ 2,023 bilhões.
Periferia
Embora dois terços das 15 maiores obras viárias estejam localizados na zona mais rica da cidade, a prefeitura também fez ao menos dois investimentos em regiões periféricas e pobres.
São os casos da canalização do córrego Jacú-Pêssego e sua transformação em avenida (zona leste) e a pavimentação da estrada do Embu-Mirim (zona sul).
A prioridade para obras que beneficiam o tráfego de veículos, entretanto, não melhorou as condições de trânsito na cidade.
A velocidade média nas vias expressas de São Paulo -alvo da maioria das obras de Maluf- vem caindo desde 1992. Naquele ano, era de 52 km/hora. De janeiro a julho deste ano, segundo a CET, caiu para 44 km/hora.
Especialistas em trânsito explicam que dura pouco o efeito benéfico provocado por obras voltadas ao transporte individual.
"A médio prazo, novas vias originam novas viagens e mais trânsito", diz Rogério Belda, presidente da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP).
O principal meio de transporte da população paulistana é o ônibus. E os indicadores mostram que as obras viárias não melhoraram o tráfego desses veículos.
A velocidade média dos ônibus, que era de 21 km/hora em 1984, continuou caindo. Em 1996 já baixara para 16 km/hora e este ano, segundo a São Paulo Transporte, está em 14 km/hora.
O melhor jeito para aumentar a velocidade desse meio de transporte é investir em corredores e terminais exclusivos para ônibus.
Até o fim da gestão Maluf, a prefeitura terá investido R$ 130,6 milhões em corredores -4,3% do gasto com as 15 maiores obras.

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