São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Consumo de crack é tolerado no centro

ROGERIO WASSERMANN
ORMUZD ALVES

ROGERIO WASSERMANN; ORMUZD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Apontado como fator gerador de violência entre os menores, consumo acontece às claras em São Paulo

Apesar de apontado pela polícia como uma das principais causas do aumento da criminalidade nos últimos tempos, o consumo e tráfico de crack em São Paulo continuam acontecendo às claras, sem que haja repressão.
A Folha acompanhou, em dois dias, o movimento na praça Júlio Mesquita (centro de São Paulo), onde diversos garotos se concentram para fumar crack. Durante as mais de cinco horas nas quais a reportagem esteve na praça, não foi visto um único policial.
Na praça coexistem barracas de comércio ambulante, um ponto de táxi e dois pontos de ônibus, pelos quais passam pelo menos duas dezenas de linhas.
Movimento
Logo cedo, garotos que dormiram na praça começam a fumar crack. Às 10h, o grupo de pessoas reunidas para consumir a droga já tem quase 20 pessoas.
Alguns garotos bem vestidos aparecem de vez em quando para fumar com os meninos da praça. Ficam por pouco tempo e saem.
Vez ou outra chegam adultos que trocam algumas palavras com os garotos e compram algumas pedras da droga. Alguns deles sentam-se na praça mesmo, entre eles, para fumar.
Uma das meninas, que vestia um agasalho azul e verde, serve supostamente de ligação com traficantes. Ela senta em um canto, conta dinheiro e desaparece. Volta pouco tempo depois e distribui pedras de crack entre os garotos.
A cena se repete diversas vezes durante o tempo em que a reportagem está observando o movimento na praça.
Um rapaz bem vestido e visivelmente maior de idade chega em uma bicicleta. Troca algumas palavras com um garoto, que aponta a menina de azul e verde.
Ele tira dinheiro do bolso e dá para ela em troca de algumas pedras de crack. Ele olha para os lados e vai embora, pedalando.
Uma moça com uma sacola de compras repete o ritual do ciclista.
Logo depois, a menina é procurada por um homem. Os dois atravessam a rua e se encontram com duas mulheres em frente a um teatro de sexo explícito.
Os quatro conversam tempo e vão para a praça, onde se juntam a um grupo para fumar novamente.
Às 15h, um dos garotos que havia passado todo o tempo dormindo estirado ao lado do grupo que fumava, acorda. Não demora muito para que ele se junte ao grupo e comece a fumar.

LEIA MAIS sobre o consumo de crack na pág.2

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