São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Lou Reed

MARISA ADÁN GIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O último grande mito do rock'n'roll chega ao Brasil. Depois de David Bowie, Iggy Pop e Bryan Ferry, é a vez de Lou Reed, 54, compensar décadas de espera com quatro apresentações no país.
O cantor novaiorquino apresenta-se nos dias 5 e 6 de setembro, no Rio de Janeiro, e nos dias 9 e 10, em São Paulo.
Os shows fazem parte da turnê "Hookywooky", que lança o disco "Set the Twilight Reeling".
O repertório é um primor: além das músicas do último CD, há clássicos como "Walk on the Wild Side" (seu único hit), "Sweet Jane", "Satellite of Love", e "I'm Waiting for the Man" (do Velvet Underground, com quem tocou entre 1965 e 1970).
A banda é a mesma do último disco (Fernando Saunders no baixo, Tony Smith na bateria), mais o guitarrista Mike Rathke.
É um momento especialmente bom para Reed. Seu último álbum foi considerado um dos melhores de sua carreira.
O disco é, com certeza, mais leve que seus dois trabalhos anteriores: "Songs for Drella" (1990), dedicado a Andy Warhol, e "Magic And Loss" (1992), com músicas sobre doença e morte.
Em entrevista à Folha, por telefone de Nova York, Lou Reed falou sobre os shows e a sua influência no rock'n'roll. Lembrou ainda a morte de Sterling Morrison, ex-guitarrista do Velvet, em 95.
*
Folha - O show no Brasil vai ser igual aos outros da turnê?
Lou Reed - Provavelmente vou acrescentar algumas músicas, já que nunca toquei no Brasil antes.
Folha - Seu último disco é bem mais leve que os dois anteriores.
Reed - Não acho que aqueles discos sejam tristes. Apenas tentei mostrar como se lida com um determinado tipo de problema.
Folha - Hoje em dia, você se sente ligado à cena rock'n'roll?
Reed - Eu nunca fiz parte do rock'n'roll. O que eu faço é "Lou Reed music".
Folha - Mas há uma ligação com grupos como U2 e R.E.M.
Reed - Claro, eu me sinto ligado a eles. E sempre me orgulho quando gravam minhas músicas.
Folha - O que você sente quando alguém diz que foi "influenciado por Lou Reed"?
Reed - Sempre fico imaginando o que querem dizer com isso. Às vezes, ouço uma canção no rádio e acho que sou eu, mas não sou. E geralmente é algum grande hit.
Folha - Você se sente roubado?
Reed - Não. Eu só queria ter tido a idéia e gravado antes.
Folha - Ter apenas um hit, "Walk on the Wild Side", é frustrante?
Reed - Se eu não tivesse essa canção, meu Deus, o que seria de mim? Não sei, talvez haja algo na minha música que a impeça de ser comercial. Mas não sei o que é.
Folha - Você se vê como um letrista de rock ou um poeta?
Reed - Eu já fiz algumas leituras públicas das minhas letras e foi interessante. Pessoalmente, acho que elas sobrevivem muito bem. Mas algumas pessoas acham que quem faz rock não devia pensar.
Folha - O maior mito sobre o Velvet Underground é que foi a banda mais influente da história.
Reed - Não posso nem imaginar o que isso significa. Quer dizer, foi há muito tempo. O Velvet não vendeu muitos discos, mas mesmo assim parece ter esse alcance...Eu não sei. Acho que eu devia gostar.
Folha - A reunião do Velvet em 1993 foi uma boa idéia?
Reed - Pessoalmente, fico muito feliz por termos feito isso. Porque, agora que Sterling morreu, nunca mais tocaremos juntos. O Velvet Underground é minha banda favorita, e agora não existe mais. Nunca mais pode existir.

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