São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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A história

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Em 1960, os pais de Lewis Allen Reed, então com 18 anos, levaram-no ao hospital para um tratamento à base de eletrochoque. Ele estudara piano clássico desde pequeno, mas desde pequeno sonhava ser astro de rock'n'roll.
No mesmo 1960, deixou a casa paterna e foi estudar poesia. Aos 22, tornou-se Lou Reed e conheceu John Cale, com quem iria arquitetar o que hoje é considerado o mais influente grupo pop de todos os tempos: o Velvet Underground.
Empresariada por Andy Warhol, a banda forjou a mais explosiva combinação entre arte e cultura popular que já houve.
Na receita Velvet, os poemas de Lewis Allen desempenhavam papel crucial. Seus personagens eram drogados, suicidas, prostitutas, prostitutos. Os temas incluíam sadomasoquismo, autodestruição/redenção pela heroína ("Heroin, it's my wife and it's my life", diz, em "Heroin") e operações transexuais descritas em detalhes.
Em 1970 Lou abandonou a banda e, após dois anos de reclusão, lançou-se em carreira solo com um disco de repercussão nula.
Quem o recolheu do ostracismo foi David Bowie, então superstar. Em "Transformer", Bowie injetou velocidade à carreira de Lou, produzindo temas como "Walk on the Wild Side" e "Perfect Day" (hoje trilha de overdose de heroína em "Trainspotting").
Fosse também superstar, Lou teria escandalizado o mundo à época, beijando Bowie na boca, casando-se com um travesti e descolorindo os cabelos em atitude punk.
Aí o Velvet já era mito -não vendera nada, mas ajudara a formar Bowie, os pré-punks Stooges (de Iggy Pop) e MC5, Roxy Music.
Era só o começo. Toda uma nova geração se formava sob o impacto dos antológicos "Transformer" (72) e "Berlin" (73), de Lou. Este último veio ao mundo para se verter trilha sonora fatal e definitiva para qualquer um que um dia tenha pensado em suicídio, morte, destruição ou rock'n'roll.
Entre os produtos musicais do imaginário Velvet/Lou, surgiram, logo a seguir, Patti Smith, Sex Pistols, Blondie, Talking Heads e uma infinidade de bandas que compartilhariam com o Velvet a síndrome do anonimato: Television, Big Star, Modern Lovers, Voidoids...
Essa foi apenas a primeira leva -mais de 800 bandas já fizeram covers de canções de Lou. Entre seus discípulos inscrevem-se Joy Division, Nick Cave, Echo & The Bunnymen, Smiths, Jesus & Mary Chain, Sonic Youth (-que canta Carpenters como se fossem Velvet), R.E.M., Cowboy Junkies...
Lou passou a amenizar o tom outsider a partir de 1980, quando se casou com Sylvia Morales.
Uma série de discos menos inspirados nos 80 foi quebrada pelo advento de "New York" (89), em que a veia poética saltou e abriu nova sangria de obras-primas atormentadas. Vieram "Songs for Drella" (90), tributo a Warhol, em parceria com Cale, "Magic and Loss" (92), sobre envelhecimento e câncer, e "Live MCMXCIII" (93), breve retorno do Velvet.
Em 94, separou-se de Sylvia e se uniu a Laurie Anderson, inspiradora de "Set the Twilight Reeling" (96), novo pico de criatividade. Lou chega afinal ao Brasil, em sua melhor forma. Aleluia.

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