São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Escândalo derruba assessor de Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Dick Morris, o principal assessor político do presidente dos EUA, Bill Clinton, renunciou ontem, acusado de ter mostrado a uma prostituta discursos de campanha do presidente, da primeira-dama e do vice-presidente.
A revista sensacionalista "Star" publicou trechos do diário de Sherry Rowlands e fotos dela com Morris em trajes e situações de grande intimidade.
Segundo Rowlands, Morris a deixava ouvir suas conversas telefônicas particulares com Clinton, contou-lhe sobre a descoberta da possível vida em Marte uma semana antes do governo anunciá-la e discutia com ela estratégia política.
O porta-voz de Clinton, Mike McCurry, disse que o presidente não demitiu nem pediu a demissão de Morris, mas a aceitou quando ele a solicitou. Morris afirmou não ter desejado que o caso se tornasse tema de campanha nem que sua família fosse submetida ao "sadismo da imprensa marrom".
O candidato da oposição à Presidência, Bob Dole, foi lacônico ao comentar o caso: "Acho que agora o presidente vai voltar a se mostrar como o liberal que é".
Morris é considerado o responsável pela guinada à direita do discurso de Clinton desde novembro de 1994, quando a oposição obteve o controle do Congresso.
Clinton convocou Morris para ajudá-lo após a derrota nas eleições parlamentares. Diversos amigos e assessores do presidente manifestaram sua contrariedade pela inclusão de Morris no grupo.
A influência de Morris sobre o presidente era considerada decisiva. A revista "Time" desta semana o chama de "o homem que é o dono dos ouvidos de Clinton".
Morris, 48, tem tido relação tumultuada com Clinton desde que, em 1978, ele o ajudou a se eleger governador do Arkansas (sul).
Consta que, em 1990, Clinton chegou a agredir Morris com um soco em meio a discussão política.
Segundo Rowlands, Morris se refere ao presidente como "o monstro" e à primeira-dama como "o ciclone".
O possível efeito do escândalo sobre a campanha não é claro. Se a oposição conseguir provar a um grande contingente de eleitores que o caso Morris é emblemático do que ocorre na Casa Branca de Bill Clinton, é possível que o presidente perca votos.
Mas, embora Dole tenha feito diversas referências à questão do caráter dos integrantes da atual administração, pelo menos no primeiro momento, ele não pareceu disposto a explorar os aspectos morais do episódio.
Os dois candidatos têm se referido com frequência à questão dos "valores familiares", embora Dole seja acusado de ter sido indiferente por anos a sua primeira mulher e Clinton de ter se envolvido em diversos casos extraconjugais.
Ontem, a cobertura jornalística do dia, que estava programado para ser o da consagração de Clinton, centrou-se no escândalo Morris.
Os nomes de Genniffer Flowers e Paula Jones, duas das mulheres com supostos envolvimentos com Clinton, reapareceram nas reportagens das redes de TV após meses de esquecimento. Pesquisas de opinião pública segundo as quais cerca de 40% dos eleitores afirmam duvidar que Clinton tenha as qualidades morais desejáveis num presidente também ressurgiram.
Assessores do presidente, muitos indisfarçavelmente satisfeitos com a renúncia de Morris, diziam que ela estará esquecida em poucos dias e não vai provocar danos de monta à campanha.

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