São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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FOME DE TARIFAS

Vem em péssima hora a declaração do presidente da Telebrás, Fernando Xavier Ferreira, de que a tarifa telefônica básica será triplicada.
Como se não bastasse o fato de que esse pretendido aumento ocorreria quando os salários e demais preços encontram-se estabilizados e, em toda a economia, há enormes obstáculos a quaisquer majorações, esse ônus contra a população visa a elevar as receitas de uma estatal já lucrativa. Apenas nos sete primeiros meses deste ano, a Telebrás registrou lucro de R$ 1,9 bilhão.
Também é lastimável, nesse episódio, o desencontro de informações entre áreas do governo. O secretário de Acompanhamento Econômico, Bolivar Moura Rocha, declarou que o Ministério da Fazenda desconhece o estudo da Telebrás. Já o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, procurou justificar o aumento.
Além de expor o que parece ser uma disputa entre os que defendem e os que se opõem à alta dentro do próprio governo federal, esse tipo de anúncio tarifário sem data tem evidentes impactos sobre as ações da Telebrás, permitindo a especulação por quem eventualmente tivesse informações antecipadas.
Se o governo pretende de fato privatizar as telecomunicações, ademais, a defesa dos interesses dos usuários é uma razão adicional para evitar os aumentos. Mas, infelizmente, em vez de trazer uma melhoria do serviço sem custo adicional para o consumidor, o governo parece preferir valorizar a empresa à custa da população para assim vendê-la mais caro. Assiste-se a uma verdadeira fome tarifária antecedendo a prometida venda da Telebrás, que o ministro Sérgio Motta prevê para o final de 1998 e início de 1999.
Por todos esses motivos, a intenção de promover um aumento da ordem de 200% na tarifa mínima cobrada nas contas mensais é absolutamente inoportuna e lamentável, pois prejudicial à população. Resta esperar que a discussão aberta pelo presidente da Telebrás resulte ao fim em solução contrária à pretendida. Que as tarifas não sofram aumento.

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