São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na bandeira, ordem, progresso e amor

JOSÉ SARNEY

Recebi do senador Darcy Ribeiro, esse homem extraordinário, figura humana inconfundível de intelectual e político, cujo exemplo de vida e santificação nos comove, a sugestão para que emprestasse o meu nome de presidente do Congresso na subscrição de duas emendas: uma, excluindo da qualificação do nome institucional do nosso país a expressão "República Federativa", que consta na Constituição, para deixar somente o nome com que o país é conhecido: "Brasil".
França é França, Itália é Itália, Inglaterra é Inglaterra. A outra sugestão foi a de também colocarmos o nome de "Senado da República", em vez de Senado Federal. Mandei fazer as emendas, que ainda não foram apresentadas. Bastou esse fato para que me chamassem de "provinciano e caipira", expressões usadas hoje, mais do que nunca, com conotação depreciativa, por uma cientista política. Fico na boa companhia do Darcy.
Não quero palco nem holofotes. Apenas concordei com a sugestão de um eminente brasileiro. O Brasil, que já foi Império do Brasil e Estados Unidos do Brasil, é hoje República Federativa do Brasil. Já está em nossa Constituição a referência a nosso país sobre sua forma de governo e organização em Estados federados.
Não vejo nenhuma heresia em suprimir da designação oficial um apêndice desnecessário. Somos e seremos sempre Brasil... e brasileiros.
O nome não é a coisa, como diriam os linguistas e semiólogos, versados em denotação e conotação. Há sobre o assunto uma pletora de estudos e de teses. Há mesmo uma instigante obra de um filósofo francês, Michel Foucault, sobre a matéria, "Le Mot et les Choses".
Os publicitários nos dariam razão, ao professor Darcy Ribeiro e a mim mesmo.
É mais simples, direto, para ser proferido pela maioria de nosso povo, caipira e provinciano como eu.
No princípio era o nome de uma árvore, símbolo de nossas terras, rubra como a pele dos indígenas que nelas habitavam. Com a devastação, hoje o pau-brasil é uma espécie vegetal em extinção. A "poda" que propomos é vitalizadora. Associamos ao nome Brasil o nosso sentido de pátria e as nossas raízes nacionais. O Brasil somos nós e é maior que todos nós.
A nossa cientista política vocifera: "É inacreditável. Isso é uma irresponsabilidade muito grande de quem sente necessidade de palco, dos holofotes. Uma atitude dessas a faxineira de Freud explica".
Darcy me propôs, também, que na bandeira colocássemos a expressão completa de Comte, que os nossos positivistas puseram: Ordem e Progresso. A expressão incluía, igualmente, amor. E, aí sim, os jovens ficariam satisfeitos, a história restabelecida, e as nossas cientistas políticas com um bom tema: "Freud, Bandeira e Amor". É o infinito "febeapá" (Festival de Besteira) de que nos falava o Sérgio Porto.

Texto Anterior: O rei do gado
Próximo Texto: DIVISÃO DE ESPAÇO; PERSEGUIÇÃO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.