São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996
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Rússia transforma novela em livro popular

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A novela "A Próxima Vítima", que a Globo exibiu há pouco menos de um ano com grande estardalhaço, vai virar livro. Na Rússia.
A editora Most-Media, de Moscou, promete lançar em outubro um romance policial que tem por base a trama do paulista Silvio de Abreu.
O volume estará à venda não apenas no país de Boris Ieltsin. Também irá circular em outras 13 ex-repúblicas soviéticas.
Sairá com tiragem de 85 mil exemplares. O número é astronômico para os padrões brasileiros (aqui, somente títulos de pesos pesados como Paulo Coelho batem as 50 mil cópias).
Na Rússia, porém, livros populares costumam ter edições de 300 mil exemplares ou mais. "Quando o tema é uma telenovela, a cifra pode atingir a casa do milhão", diz Viatcheslav Ouvarov, cônsul russo em São Paulo.
Cita como exemplo a adaptação literária de "Os Ricos Também Choram". A novela mexicana gerou um romance que, na ex-URSS, vendeu 1,5 milhão de cópias.
Dacha
A Most-Media resolveu apostar em "A Próxima Vítima" por causa do êxito que o folhetim da Globo está alcançando entre os telespectadores russos.
A emissora ORT, estatal, transmite a novela dublada desde julho. A repercussão é tanta que, há 12 dias, a agência de notícias Tass entrevistou Silvio de Abreu. Antes, mandou um fax em português para a casa do autor, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo.
O texto explicava que "A Próxima Vítima" faz "um grandissíssimo (sic) sucesso" junto à população local.
"Na hora dos capítulos, as ruas de Moscou ficam vazias", informava o fax, assinado por Boris Chtcherbakov, diretor da sucursal em Brasília.
Não é a única novela brasileira que caiu no gosto dos russos. Em julho de 87, a Gosteleradio (uma espécie de Ministério das Comunicações) mostrou "Escrava Isaura" para toda a União Soviética.
"A trama criou novos hábitos. Muita gente, ainda hoje, usa a palavra portuguesa 'fazenda' quando se refere às dachas (casas de campo)", conta Roberto Felippelli, o responsável pelas vendas da Globo na Europa, África e Ásia.
Há um ano, outra novela da emissora, "Tropicaliente", causou frisson em Moscou. A ORT lançou-a com o título de "Tropikanka". Meses depois, a substituiu por "Mulheres de Areia" -que, pretendendo pegar carona na fama da antecessora, chegou às residências russas como "Segredos de Tropikanka".
Eleições
A novela de Ivani Ribeiro, aliás, quase provocou um problema diplomático. No último mês de maio, o jornal moscovita "Nye Die Bog!" publicou uma entrevista em que Glória Pires, protagonista de "Mulheres", apoiava a reeleição de Ieltsin.
O semanário britânico "The Sunday Times" reproduziu as declarações, que acabaram chegando à atriz no Rio. Glória se indignou, disse que nunca manifestou adesão a ninguém e exigiu direito de resposta.
Nem assim os políticos sossegaram. Voltaram à carga em julho. No dia das eleições que confirmaram Ieltsin como presidente da República, a ORT fez questão de exibir os três últimos capítulos de "Mulheres".
Era uma estratégia para impedir que os eleitores saíssem das grandes cidades e, por tabela, deixassem de comparecer às urnas.
"O êxito de nossas histórias entre os russos me intriga e honra muito", afirma Silvio de Abreu. "Gosto de saber que 'A Próxima Vítima' vai se transformar em livro. O Brasil deveria repetir a experiência não só com a minha, mas com outras novelas. Talvez, dessa maneira, despertássemos o hábito de leitura entre as camadas mais pobres da população."
Foi o advogado paulista Silvio Ferraz de Arruda quem negociou "A Próxima Vítima" com a Most-Media.
Ele tem prática no ramo. Já vendeu para editoras de Moscou os direitos de "Lua Cheia de Amor" (novela exibida na Rússia há três anos), "Tropicaliente" e "Mulheres de Areia". Todas originaram livros com tiragens entre 50 mil e 70 mil exemplares.

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