São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996 |
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Carlos Freire mostra 'Carnaval de Veneza'
ANA MARIA GUARIGLIA
Radicado em Paris desde 1968, Freire foi jornalista durante dois anos da "Tribuna da Imprensa", onde fazia críticas de cinema e de literatura. A partir de 1972, passou a trabalhar com fotografia, ligando-se ao movimento cultural francês e retratando personalidades como a escritora Doris Lessing e o filósofo Roland Barthes. Trabalhou para "Magazine Literaire", "Times", agências Rapho e Hutchison, de Londres. Como repórter, Freire registra a realidade em preto-e-branco, com uma visão artística, sempre influenciado pela pintura. Em entrevista exclusiva à Folha, o fotógrafo diz que a pintura é muito importante para a fotografia, principalmente na composição dos elementos de cena. Folha - Seu trabalho é muito conhecido na Europa. Qual o motivo de não ser divulgado em nosso país? Carlos Freire - Não tenho exposto com frequência no Brasil por falta de oportunidade. Em 1981, estive aqui, realizando apenas três exposições, apesar de ter feito algumas reportagens em Minas e no Rio. Acredito que o problema seja falta de tempo para desenvolver projetos a longo prazo. Folha - O sr. acredita que a fotografia documental artística, como a da mostra sobre Veneza, é uma tendência da fotografia atual? Freire - Sempre que me fazem essa pergunta, lembro de uma história do fotógrafo Andrè Kertz. Ele contava que quando fazia fotos para uma revista norte-americana, o editor sempre lhe dizia que eram boas, mas muito simples, sem conteúdo emocional. Na verdade, Kertz não registrou guerras, grandes acontecimentos ou misérias. Ele fotografou a vida simples e direta em seu cotidiano. E a vida, por si só, já é uma grande emoção. Acredito que a fotografia documental artística não é uma tendência, mas uma linguagem que expressa o próprio pensamento do autor. Folha - Como fotógrafo, ensaísta e crítico de cinema, como o sr. relaciona a fotografia e o cinema? Freire - Há um registro do fotógrafo Don McCullin que me impressiona muito e pode exemplificar a pergunta. Ele captou uma paisagem da Irlanda e a excluiu do contexto irlandês, desvinculando-a da história do país. Se a mesma paisagem aparecesse em um filme, não teria nada a ver com a escolha de McCullin. A filmagem implica em criação, montagem e corte, ou seja, na contínua intervenção visual do cenário. Por isso, o cinema não pode traduzir exatamente aquela realidade registrada em uma fração de segundo, em que houve a reflexão criativa do fotógrafo. A jornalista Ana Maria Guariglia viajou a convite da organização da Bienal Exposição: Carnaval de Veneza Onde: Palácio Avenida (r. 15 de Novembro, s/nº, tel. 041/322-1525, ramal 2277, Centro, Curitiba) Quando: De segunda a sexta, das 9h às 19h; até 29 de setembro Texto Anterior: Ilustrador foi herói dos 60 Próximo Texto: Salvatore cancela shows Índice |
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