São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996
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Rodízio político

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O rodízio de carros acabou ontem em São Paulo. E houve festa entre os tucanos em Brasília.
É um fato curioso. Vamos aos detalhes.
A decisão de interromper o rodízio foi do governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB). Ele poderia ter estendido a medida para o mês de setembro. Mas seus técnicos alegaram que as condições climáticas na cidade serão favoráveis nas próximas semanas para a dispersão de poluentes.
É no mínimo esquisita essa justificativa. Previsão do tempo no Brasil não é exatamente um primor de precisão. Muito menos quando se fala a respeito da cor do céu daqui a 30 dias.
De toda forma, agora, chova ou faça sol, os paulistanos terão de aguentar 20% a mais de carros nas ruas da cidade. E o trânsito ficará muito pior do que já é. Tudo isso a um mês do primeiro turno da eleição para prefeito.
Daí a comemoração tucana. "O rodízio acaba e os ônibus vão voltar a andar numa velocidade de 20 quilômetros por hora", diz o deputado José Aníbal, o líder do PSDB na Câmara.
O raciocínio de Aníbal é simples. Depois de trafegar quase um mês em ruas e avenidas menos congestionadas, o paulistano de classe média sentirá a diferença já na segunda-feira. O típico eleitor malufista ficará de mau humor. E, torcem os tucanos, colocará a culpa no prefeito.
A idéia é aproveitar os congestionamentos dos próximos dias para sugerir que as obras viárias de Maluf na cidade foram insuficientes e de prioridade duvidosa.
Quem deve dizer isso, obviamente, é o candidato tucano em São Paulo, José Serra, em sua propaganda de TV.
Há o outro lado da história. Os tucanos temiam que mais um mês de rodízio reacendesse as críticas que existiram no início da operação. E a culpa seria então de Covas e Serra.
De qualquer forma, o rodízio em São Paulo teve pouco a ver com redução de poluição. Tratou-se apenas de uma queda-de-braço para ver quem se beneficiava mais do ponto de vista político-eleitoral. O que é uma lástima.

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