São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996
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O amigo da família

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não acompanhei com o devido interesse a revisão do inquérito sobre o acidente que matou JK. Em conversa com o Serafim Jardim e seu advogado, que solicitaram a medida, declarei meu ponto de vista: somente um fato novo e relevante alteraria a versão oficial do episódio.
Não houve esse fato novo e relevante. As hipóteses do tiro e da bomba me pareceram fantasiosas. Contudo são instigantes os mistérios sobre o acidente na Rio-São Paulo.
O maior deles seria a coincidência de os três líderes da Frente Ampla terem morrido de forma abrupta no espaço de nove meses. Há uma estranheza a mais: uma das primeiras pessoas que se acercaram do Opala espatifado foi o dr. Guilherme Romano.
Não era amigo íntimo de JK. Pelo menos, nos sete últimos anos de vida do presidente os dois não se encontraram, a não ser socialmente -se tanto. O médico era o amigo número um, isso sim, e hospedeiro oficial do general Golbery, chefe do SNI -entidade que fiscalizava os cidadãos suspeitos ao regime militar. JK era um deles.
Seus passos eram rastreados. As pessoas que o frequentavam também eram observadas. Foi Guilherme Romano que se apresentou na delegacia de Resende como amigo de JK e recebeu, "em nome da família", os seus objetos pessoais, inclusive as cinco últimas páginas do diário que o ex-presidente estava escrevendo.
Páginas que no mesmo dia foram parar nas mãos de Golbery e, na semana seguinte, nas de Armando Falcão, ministro da Justiça da época.
Guilherme Romano investiu-se do macabro papel de dono do defunto. A pedido de dona Sarah, fui ao Médico-Legal comunicar que o velório no Rio seria no saguão do edifício Manchete. Dirigi-me a Rodrigo Lopes, genro de JK, ignorando o dr. Romano. Que logo submergiu, só aparecendo anos mais tarde, dizendo-se possuidor do diário de JK.

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