São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996
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O cristão e a cidadania

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A Campanha da Fraternidade-1996 ajudou muito as comunidades cristãs a compreenderem a relação entre a política e o bem comum e a assumir o exercício da cidadania.
Cada pessoa é criada por amor e para a felicidade e, por isso, tem direito às condições necessárias para alcançar seu desenvolvimento. O bem comum identifica-se com o conjunto de condições que permitam a cada uma e a todas as pessoas alcançarem sua perfeição.
Entre essas condições não podem faltar a alimentação, a moradia, a educação e saúde, o direito ao trabalho com salário justo, ao lazer e à segurança.
A política trata da organização e do governo da "cidade" (polis) a fim de que se promova o bem comum, assegurando, assim, a todos as condições de vida digna.
A doutrina social da igreja, auxiliando-nos a aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, à luz do Evangelho, motiva os cristãos a assumir, com vigor, a parte que lhes compete na promoção do bem comum.
Cabe à igreja cooperar na construção de uma sociedade justa e solidária e, em especial, anunciar, testemunhar e defender as exigências éticas que decorrem da dignidade da pessoa e pautam as decisões políticas.
Com efeito, a igreja não pode deixar de colaborar para que se reduzam as desigualdades sociais, elimine-se a violência e haja uma convivência fraterna na família, na vizinhança, nos ambientes de trabalho e na vida inteira do país.
O cristão deve, portanto, dar exemplo no exercício da cidadania.
A participação ativa na política é uma dimensão exímia e necessária da caridade evangélica que não se estende apenas a gestos isolados, mas tem uma abertura maior quando procura que haja leis justas em benefício de todos.
Aos cristãos que se apresentam como candidatos não faltem as qualidades básicas para o exercício da missão política:
1) a honestidade, exercendo o mandato com desprendimento, transparência e sincera adesão aos princípios éticos, sem se deixar atrair por vantagens pessoais e evitando toda sombra de corrupção; 2) a competência correspondente ao cargo, capaz de apresentar propostas políticas viáveis e de assegurar a cooperação dos demais;
3) compromisso com o bem comum, empenhando-se a favor dos direitos humanos, em especial na defesa da vida; 4) amor ao povo que permita captar o sofrimento e os anseios dos empobrecidos e excluídos. Não se trata de compaixão distante, mas de efetiva solidariedade que não descanse enquanto não consiga superar as estruturas sociais injustas e promover as reformas indispensáveis.
É dever dos eleitores, além do voto consciente e livre, organizar-se para acompanhar os que exercem cargos públicos, auxiliando-os no reto desempenho de sua missão.
Estamos ainda longe da sociedade solidária e fraterna que queremos construir, mas a cada dia, com a graça divina, podemos e devemos dela nos aproximar.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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