São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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'Paixão é paixão, sou uma pessoa apaixonada'

Fernand Alphen (publicitário): Porque a sra. mudou a estratégia de sua campanha? A Erundina Zen não agradou àqueles que queriam rever a Erundina Ninja das outras candidaturas?
Erundina: Asseguro que a estratégia adotada foi decidida com as pessoas que são responsáveis pela questão. As mudanças já estavam previstas.
Roberto Ferreira (empresário): Seus pronunciamentos de campanha refletem a sua opinião própria ou a senhora tem que conferir com o partido antes de emiti-los? A figura de Erundina é hoje muito mais popular e simpática que a do PT, e, sem dúvida, sua candidatura ganharia muitos votos se enfrentasse os radicais xiitas.
Erundina: As minhas idéias e posições são minhas. Faço parte de um partido que é democrático, onde as questões importantes são discutidas democraticamente, um partido com disciplina interna, diferente de outros partidos onde um ou dois caciques decidem, onde não existe ligações orgânicas com as bases. Fernand Alphen: A sra. poderia responder aquilo que não lhe foi permitido no debate da Bandeirantes, sobre presumidas cem mortes em um desabamento numa favela no governo?
Erundina: Infelizmente não tive a oportunidade de rebater uma mentira. O que houve foi a morte de 14 pessoas em um aterro que já havia sido interditado pela administração regional. O candidato mentiu propositalmente com a intenção de me prejudicar.
Fernand Alphen: A sra. espera encontrar a prefeitura nas mesmas condições de inadimplência que encontrou em sua última gestão e que se tornou seu principal argumento para defender a interrupção das obras de Jânio?
Erundina: Vou encontrar uma situação pior que na prefeitura passada, com uma dívida de cerca de US$ 6 milhões. Mas já tenho experiência em administrar uma dívida enorme e, portanto, dessa vez será mais fácil.
Roberto Ferreira: Não estou recebendo bytes. Será que a Telesp já aprontou outra? Qual é a sua opinião sobre o Rodo-Anel? A sra. não acha que apesar de ser uma obra estadual, pelos benefícios que trará à cidade e seu porte gigantesco, deveria ter apoio da prefeitura?
Erundina: Concordo com você. O problema do tráfego em SP só será resolvido com a construção dessa obra, e a prefeitura não poderá ser omissa. É possível se fazer uma parceria tipo consórcio com as prefeituras da região metropolitana e também com a iniciativa privada.
Paulo Machline (empresário): Falando em Telesp: A prefeitura não poderia ajudar o governo a resolver o problema da qualidade e eficiência das linhas telefônicas na região de maior densidade do país, ou seja, a região metropolitana de SP?
Erundina: Tudo aquilo que interessa à vida da cidade mesmo sendo de competência de outro nível de governo terá que ter a participação do município. O mesmo ocorre em relação, por exemplo, às questões do saneamento básico, do abastecimento de água. Precisam ter a participação do poder municipal.
Jair Ribeiro (economista): A dupla Maia e Maluf tem comprovado a tese de que obras rendem votos. Se eleita, a sra. considera mudar o seu estilo de gestão para atender a essa realidade eleitoral?
Erundina: Absolutamente. Veja: entendo que há obras e obras. No nosso primeiro governo construímos muitas obras, por exemplo, seis grandes hospitais, 111 unidades básicas de saúde, 70 novas escolas, 50 novas creches, canalizamos mais de 20 córregos. Só não terminei as obras de túneis do governo anterior porque não havia recursos suficientes para isso. Tive que pagar uma dívida enorme resultante do início dessas obras e preferi puxar o cobertor para cobrir a parte mais pobre do corpo da cidade, ou seja, investir prioritariamente no social. E jamais faria alguma coisa com interesse político-eleitoral.
Fernand Alphen: A sra. foi muito criticada em sua gestão sobre o excesso de dinheiro gasto em campanhas publicitárias da prefeitura. Como é que o prefeito Maluf fez para gastar tanto quanto e ainda construir avenidas e mictórios públicos?
Erundina: Gastei nos quatro anos de governo pouco mais de US$ 24 milhões em comunicação, incluindo a comunicação institucional, previsto em lei. A atual gestão, até o final do ano passado, já havia gasto mais de R$ 70 milhões em propaganda, só que não há qualquer crítica pelos excessos do governo em relação a esses gastos excessivos em publicidade. Só para exemplificar, de todo o investimento no projeto Cingapura até o momento, 10% foi gasto em publicidade, ou seja, US$ 4 milhões.
Fernand Alphen: A sra. está bonita na TV. A sra. está apaixonada? Não vale dizer que é por São Paulo!
Erundina sorri para Fernand Alphen: Paixão é paixão, sou uma pessoa apaixonada por tudo que eu faço, sobretudo quando é uma tarefa desafiadora e do porte dessa que estou enfrentando mais uma vez, ou seja, disputando o cargo de prefeita da cidade mais importante do país.
Roberto Ferreira murmura para TODOS: Não consigo ficar na sala.
Jair Ribeiro: E o que a sra. acha do "fura-fila"?
Erundina: É uma bela fantasia e uma enganação. Há soluções muito mais simples e viáveis que poderiam já ter sido implantadas e não foram. Porque a prefeitura não ajudou a expandir a rede de metrô na cidade? Há uma linha entre Itaquera e Guaianazes de seis quilômetros já iniciada e paralisada há anos.
Paulo Machline: De todo seu plano de governo, o que a sra. MAIS quer ver acontecer? O que lhe trará maior satisfação?
Erundina: Garantir uma vaga de qualidade na escola pública para TODAS as crianças em idade escolar em SP e conseguir dar uma solução efetiva, tirando as crianças das ruas.
Paulo Machline: A sra. tem pesadelos com o Maluf à noite?
Erundina: De jeito nenhum. Eu tenho sanidade mental.
Paulo Machline: É que ele às vezes penetra o nosso inconsciente quando menos esperamos. Se a sra. não é afetada, parabéns, é parte da minoria que dorme!!!
Erundina sorri para Paulo Machline: Ha! Ha! Ha!
Fernand Alphen: A sra. acha que a raça do candidato Pitta teve alguma influência na escolha do Maluf, já que ele tinha nomes muito mais conhecidos?
Erundina: Foi sim. Foi mais uma jogada para desfazer a imagem do Maluf do passado e para tentar conquistar a comunidade negra de SP.
Um abraço afetuoso para todos vocês e esse papo foi um barato. Até as eleições.
Fernand Alphen: Fica mais um pouco que ainda tenho um monte de perguntas. Política é assim, embriaga.

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