São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Para evitar atrasos na construção

ANTONIO SETIN

Alguns setores sofrem por longo período com um estigma que está arraigado na cultura das pessoas. Quando se fala em construção civil, por exemplo, logo se pensa em atraso de obra. Quem não conhece alguém que ficou na mão de uma construtora?
Por isso, o desafio dos empresários que atuam seriamente nessa área é constante e intenso.
Mas acredito que a população também compactua com a situação quando aceita que o limite do contrato ultrapasse o período de tolerância, ou quando não recorre em termos legais.
Todos sabem que o setor civil abrange uma diversidade de fornecedores muito grande e está sujeito a intempéries. "Atrasamos porque choveu", "houve paralisação dos mestres-de-obras" e "o meu fornecedor não entregou o produto em conformidade" são frases frequentemente usadas para justificar os problemas. O mais espantoso é que as pessoas aceitam!
Depois do Código de Defesa do Consumidor, os clientes mudaram de postura, são mais exigentes, mas ainda estão longe de ter o comportamento ideal. E, quando queremos falar desse mesmo segmento com seriedade, encontramos desconfiança nos semblantes.
Aí começa o desafio para mudar essa imagem. O primeiro passo é tentar driblar os empecilhos usados como justificativas por meio de uma obra totalmente planejada.
Se considerarmos que o planejamento desde o projeto, tijolo por tijolo, gera uma economia de 2% a 3%, só isso já seria um bom motivo para a adesão. Mas os construtores não estão acostumados a trabalhar dessa forma e enxergam mais as dificuldades do que os ganhos.
Prova disso é que, com a utilização de produtos de segunda linha, alcança-se uma economia de até 10% no custo total, o que não incentiva os construtores a investir em materiais de boa qualidade, que poderiam acelerar o processo de construção. Essa economia pode vir mascarada por tintas e azulejos, mas acarreta manutenções no futuro que normalmente ficam a cargo do morador.
Quando há responsabilidade, o preço é mais elevado do que a média, mas o prazo de entrega e a qualidade são garantidos.
Por isso, as empresas sérias tentam investir em material e tecnologias novas, pois assim se responsabilizam pelo que vendem. O mercado está em plena abertura e tem nos apresentado inúmeros conceitos pouco difundidos no Brasil e amplamente usados no exterior.
O uso de novas tecnologias estabelece nova maneira de trabalho, que otimiza o andamento da obra. Para a utilização desses recursos, é preciso estudo e planejamento.
O Brasil abriu seu mercado há pouco tempo. Entretanto, a tendência é irreversível, e acredito que, em pouco tempo, não haverá mais espaço para quem não seguir um roteiro pré-estudado a partir da construção do canteiro de obra.
Acostumar a trabalhar com planejamento e melhores materiais é um desafio, mas vai sedimentar a profissionalização do setor.
Esse investimento é trabalhoso e demorado, mas vai eliminar as chances de atraso e dissipar as possibilidades de desculpas. Assim, ficará fácil para os consumidores detectarem as empresas sérias.

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