São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Proteína pode recuperar neurônio

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há uns 30 anos, Rita Levi-Montalcini, Stanley Cohen e Victor Hamburger, da Universidade Washington, em St. Louis, descobriram uma proteína, NGT ou fator de crescimento neural, capaz de assegurar a vida e a saúde de certos neurônios periféricos.
A descoberta foi mais tarde coroada com o Prêmio Nobel e abriu a possibilidade de sobrevivência de neurônios lesados, o que seria uma grande conquista, pois os neurônios são em geral irrecuperáveis.
Com o tempo, o interesse pelo assunto aumentou com a descoberta de atividade semelhante em outros fatores, inclusive em neurônios profundos como os do cérebro.
A noção e a definição de fator de crescimento neural tiveram de ser ampliadas: proteínas de ocorrência natural que mantêm os neurônios vivos e sadios durante o desenvolvimento embrionário e na vida adulta, sendo elas muitas (conhece-se pelo menos uma dúzia) e de origem diversa.
Não se tratava de descoberta puramente acadêmica. Ela despertou enorme interesse nas companhias biotecnológicas, que procuraram descobrir novos fatores e sua aplicação na prevenção e no tratamento de doenças degenerativas do sistema nervoso, como a degeneração de nervos periféricos devida ao diabetes e ao tratamento contra o câncer e as afecções profundas, como a esclerose amiotrófica lateral (ALS), o mal de Parkinson, a doença de Alzheimer e outras.
Pelo menos seis empresas se dedicam no momento a esse objetivo. O NGF está sendo desenvolvido para a neuropatia periférica, o Alzheimer e as lesões da medula. O fator neurotrófico ciliar, para a ALS e as doenças do neurônio motor.
O fator neurotrófico derivado do cérebro visa ALS e Parkinson. A neurotropina 3 destina-se à neuropatia periférica e o fator neurotrófico derivado de linhagem de célula glial visa especialmente a doença de Parkinson. O fator semelhante à insulina 1 está em estudos contra ALS e outras doenças do neurônio motor além das neuropatias periféricas.
Se alguns dos muitos ensaios derem resultado favorável, surgirá outro problema: como ministrar o remédio?
Por via oral não será possível, porque se trata de proteínas que seriam digeridas no tubo digestivo. Injetado no sangue, encontrará a oposição da barreira hemato-encefálica, que impede a penetração na massa do cérebro de moléculas grandes, tornando-se necessário ou usar moléculas menores ou adicionar-lhes substâncias que facilitem a travessia.
Recentemente apareceram duas soluções interessantes. Uma consiste em encerrar as células do fator em bolinhas semipermeáveis e permanentes, que se introduzem no corpo em qualquer parte, inclusive no cérebro.
Outra consiste em, por meio da engenharia genética, adaptar um pedaço de pele à produção do fator e depois implantar essa pele "neurotroficada" no cérebro, operações que não será fácil realizar.

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