São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Coréia do Sul ensaia o segundo salto

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Quando desembarcar terça-feira na Guatemala, o presidente da Coréia do Sul, Kim Young-sam, não estará sendo apenas o primeiro chefe de governo coreano a visitar oficialmente a América Latina.
Estará também -e principalmente- exibindo os músculos desse "tigre", que se prepara nada veladamente para o segundo grande salto de sua história.
O primeiro, iniciado com o fim dos 35 anos de ocupação japonesa (1910-45), transportou a Coréia de uma posição similar à de muitos países africanos hoje (renda per capita de US$ 87) para a de potência média (US$ 10.067 de renda per capita).
O segundo salto visa transportar a Coréia para o G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo.
Um dos patriarcas dessa esfuziante Coréia, Kim Woo-Choong, 59, que vendia jornais na sua aldeia e hoje preside a Daewoo, a 34ª empresa do mundo segundo a revista "Fortune", não esconde:
"Minha geração é a última de uma República da Coréia em processo de desenvolvimento; a dos jovens atuais será a primeira de uma República da Coréia que estará entre os países avançados."
Estudo divulgado em junho prevê que, no final do século, a Coréia do Sul será a sétima economia, se mantiver o atual crescimento.
A previsão, da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), está condicionada por um "mas": para chegar a essa posição é preciso que o país abra mais a sua economia.
Traduzindo: significa desmontar alguns dos principais pilares em que se assentou a decolagem econômica do "tigre", ou seja, a forte intervenção, direta e indireta, do Estado e uma economia fechada.
Na história oficial coreana, a liberalização já começou, em 1980. Mas é mais retórica do que real.
Houve, é verdade, redução nos créditos subsidiados e nas vantagens fiscais aos exportadores, o controle de preços caiu em 1981, e as barreiras às importações diminuíram. Mas, no atacado e no varejo, é fácil constatar que a abertura e a liberalização são incipientes.
No varejo, o secretário norte-americano do Comércio, Mickey Kantor, qualificou o mercado automobilístico local como "o mais fechado do mundo".
No atacado, a Daewoo fez um levantamento comparativo com outros 32 países (os 28 membros da OCDE mais Malásia, Cingapura, Tailândia e Taiwan). Descobriu que Seul era o penúltimo colocado em matéria de abertura e liberalização de mercados.
Mesmo produtos que outros países já retiraram ou jamais deixaram nas mãos do Estado, na Coréia do Sul seguem sendo monopólio estatal -caso dos cigarros e do ginseng (raiz medicinal), a cargo da Korea Tobacco & Ginseng Corporation, uma das mais lucrativas empresas estatais (lucro líquido de US$ 25,8 bilhões em 95).
O apego aos velhos pilares é tão forte que o coro pela desestatização, embora crescente, está longe da virtual unanimidade mundial.
O jornal em inglês "Korea Times" é um bom exemplo, ao afirmar: "O governo decidiu abrir o mercado doméstico mais amplamente e mais cedo do que originalmente programado (...) A nação cresceu demais para ficar obcecada por se somar a clubes de homens ricos como a OCDE".
O jornalista Clóvis Rossi esteve na Coréia a convite do governo sul-coreano

LEIA MAIS sobre a Coréia do Sul nas págs. 18 e 19

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