São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Iraque ataca curdos e põe EUA em alerta

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Tropas e tanques do Iraque capturaram ontem Arbil, no norte do país, cidade que era dominada por uma facção da etnia minoritária curda apoiada pelo Irã.
Os iraquianos dizem que agiram a pedido do Partido Democrático do Curdistão para conter um grupo rival curdo, a União Patriótica do Curdistão, apoiado pelo Irã.
À noite, o Comando do Conselho Revolucionário iraquiano disse que as tropas deixariam "em breve" Arbil, que fica na zona de exclusão aérea determinada pela ONU após o final da Guerra do Golfo (1991).
Arbil é a principal cidade curda do Iraque. Moradores disseram por telefone à agência "Reuter" que várias pessoas morreram e grande parte dos civis fugiu.
Mas, segundo autoridades da ONU na região, a cidade foi tomada sem que os curdos pró-Irã oferecessem maior resistência.
EUA em alerta
A movimentação iraquiana deixou os EUA em alerta. Desde anteontem, quando começou a troca de ameaças entre curdos e iraquianos, os americanos prepararam suas tropas no Oriente Médio para uma eventual entrada em ação.
Ontem à tarde, durante uma viagem de campanha pelo interior dos EUA, o presidente Bill Clinton disse que colocaria as tropas americanas na região "em alerta" e que elas seriam reforçadas, mas não deu detalhes.
O porta-voz da Casa Branca, Mike McCurry, afirmou que os EUA acreditavam que o Irã pudesse estar preparando uma ofensiva militar e que Washington estudava "todos os meios necessários para fazer frente a essa eventualidade".
Curdos pró-Iraque diziam ontem que tropas iranianas já haviam invadido território iraquiano e estariam se concentrando na cidade de Chuman.
Antes do anúncio da retirada iraquiana, os EUA discutiam com os outros membros do Conselho de Segurança da ONU a possibilidade de uma reunião de emergência.
Disputa
A cidade de Arbil, que já teve 800 mil habitantes, era controlada pelos curdos pró-Irã desde 1994, quando começou a disputa deles com os curdos apoiados pelo regime de Saddam Hussein.
Na prática, desde a tentativa fracassada de 1991 de expulsar os curdos do país, as tropas de Saddam não têm controle sobre a área que fica ao norte do paralelo 36.
A oposição iraquiana no exílio acusou a invasão de contar com aviões e helicópteros, o que desrespeitaria a exclusão aérea imposta pela ONU e patrulhada por EUA, França e Reino Unido.
Um funcionário do Alto Comissariado da ONU para Refugiados disse que havia "intensa atividade militar, terrestre e aérea".
Em sua edição de ontem, o jornal oficial "Al Jumhuria" condenou a "ingerência iraniana no norte do Iraque".
A invasão
A invasão iraquiana aconteceu pela madrugada. Às 3h45 de ontem (20h45 de sexta em Brasília), a bandeira iraquiana foi hasteada. Às 5h, começaram os bombardeios. No final da tarde, os combates já haviam se encerrado, restando apenas esparsos tiroteios.
Suleimani, outra cidade do Curdistão, também estava sendo atacada na manhã de ontem. Segundo Jabal Talabani, líder da União Patriótica do Curdistão, "centenas de tanques e centenas de blindados iraquianos atacam a cidade, e há pesados bombardeios". Milícias do Partido Democrático agiam em conjunto com os iraquianos.
No último mês, os EUA tentaram por duas vezes negociar um cessar-fogo entre as duas facções curdas do Iraque, mas sempre houve violações dos acordos.

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