São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Salários crescem e fazem empresas migrarem

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

A única liberalização que de fato avançou foi a política, embora também lentamente, a ponto de só em 1992 ter sido eleito o primeiro civil para presidir o país, o atual presidente, Kim Young-sam.
Na esteira dessa liberalização, o sindicalismo soltou-se das amarras impostas pelo longo período autoritário.
Mas ainda hoje, a semana média de trabalho na Coréia do Sul é de 48,7 horas contra, por exemplo, as 37,6 do vizinho e rival Japão.
Trabalhar muito, aliás, é uma das explicações que as personalidades sul-coreanas mais gostam de usar para o formidável crescimento do país.
Um exemplo é o de Kim Woo-choong, o presidente do grupo Daewoo, para quem o avanço de sua empresa se explica assim: "Trabalhamos intensamente, o dobro do tempo do que outras pessoas, pelo que conseguimos em 22 anos o que a outras companhias custou 44 anos".
Seu raciocínio, de certo modo, aplica-se não apenas à Daewoo, mas a toda a Coréia do Sul.
A contrapartida do trabalho duro, a partir da abertura política, foi uma explosão salarial, que levou o rendimento médio de um operário industrial a US$ 1.273 por mês.
Comparação: entre 1987 e 1994, os salários reais (descontada a inflação) aumentaram 10,4%, quando em países como EUA, Japão, França, Alemanha e Canadá o crescimento real ficou perto de 2%.
O que é bom para o trabalhador não é necessariamente bom para a competitividade da indústria.
Em parte por causa dos salários progressivamente mais altos, as empresas coreanas, como, antes, suas similares européias ou norte-americanas, procuram crescentemente instalar-se fora da Coréia.
Maquilagem
Primeiro, nos países asiáticos próximos. Depois, nos Estados Unidos, em especial Los Angeles, cidade em que intermináveis quarteirões próximos do centro exibem mais letreiros em coreano do que em inglês.
Mais tarde, na Europa, principalmente no Reino Unido, com seu mercado de trabalho comparativamente mais flexível do que o da Europa continental.
Até na Guatemala as firmas coreanas instalaram as "maquiladoras", empresas que apenas montam, por exemplo, camisas e outros produtos têxteis, para revenda no mercado centro-americano e mexicano.
Tudo somado, os investimentos coreanos no exterior somaram, até 1995, US$ 10,497 bilhões, mais do que os US$ 9 bilhões que o Brasil prevê receber, na hipótese mais otimista, de todos os países do mundo neste ano.
Não surpreende, por isso, que o presidente Kim Young-sam tenha incluído, em sua comitiva na viagem à América Latina, cerca de 40 empresários de grosso calibre.
É o que a revista "Korea Money" chama de "a nova armada", o exército do tigre em seu flexionar de músculos para tornar-se potência mundial.
(CR)

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