São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996 |
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Investimento em educação ajudou milagre
CLÓVIS ROSSI
Mas um alentado trabalho realizado por Hakchung Choo, diretor de Finanças Públicas e Desenvolvimento Social do Instituto de Desenvolvimento da Coréia do Sul, influente banco de cérebros estatal, põe a questão numa perspectiva mais ampla. Hakchung Choo traça o que representa um verdadeiro círculo virtuoso, em que o investimento e/ou proteção estatal gera crescimento, que gera emprego, que produz renda, que é investida em capital humano. "A maior parte do Orçamento governamental e do investimento público foi canalizada para promover, direta ou indiretamente, crescimento econômico voltado para a exportação e indústrias pesadas e químicas, o que, por sua vez, forneceu oportunidades de emprego geradoras de renda para o povo. Com recursos crescentes disponíveis, o povo sul-coreano investiu uma significativa porção de sua renda nele próprio, especialmente na geração seguinte." Oh-Hyun Chang, ministro-assistente para a Educação Superior, reforça a tese, apontando os "valores confucianos", próprios da cultura coreana (e oriental em geral), como o motor para a valorização da educação. A Coréia do Sul investe 16,2% de seu Orçamento em educação, segundo dados de 1992 "As políticas governamentais não teriam dado resultado, não fosse pela cultura confuciana, que considera aprender o mais importante", diz Oh-Hyun Chang. Dá o exemplo de sua própria família: "Somos sete filhos, e meus pais venderam até suas casas para que os filhos tivessem educação superior". Mais do que CDBs Esse espírito fica nítido em um quadrinho que ele exibiu à Folha. No Brasil, ao final de cada mês, os jornais publicam quanto rendeu, comparativamente à inflação, cada tipo de investimento (dólar, poupança, CDBs etc). O quadrinho de Oh-Hyun Chang, ao contrário, mostra quanto rendeu, na forma de aumento da renda familiar, o investimento em educação superior. O menor retorno (16%) foi no ensino agrícola e o maior em educação para os negócios (20,6%). A visão cultural dos especialistas coreanos não é, entretanto, compartilhada por peritos externos. Um relatório do Banco Mundial ("O Milagre do Leste Asiático", editado em 1993) prefere pôr a ênfase na diferença do investimento em educação entre países latino-americanos e a Coréia do Sul e outros "tigres" asiáticos. Na América Latina, a maior parcela dos recursos públicos vai para o ensino superior. Na Coréia, como na Indonésia e na Tailândia, "mais de 80% do seu orçamento educacional é dedicado ao ensino básico", diz o Banco Mundial. Na verdade, é um pouco menos: três quartos do orçamento do Ministério da Educação foram alocados, nos anos 60 e 70, para a chamada educação compulsória, os seis anos que, na Coréia, compõem o ensino fundamental. Problema paradoxal Claro que a porcentagem foi caindo, à medida em que o ensino compulsório se universalizava (hoje, cobre praticamente todas as crianças em idade escolar). A compulsão educacional acabou gerando um problema tido como "único no mundo" por Jung Jin-hwa, economista do Instituto Coreano para a Economia Industrial e o Comércio: excesso de formandos universitários. No ano passado, apenas 60,9% dos graduados de faculdades e universidades encontraram emprego imediatamente após a formatura, mesmo em um país em que o desemprego, no conjunto da força de trabalho, estacionou em 2,4%, o mais baixo índice em 30 anos. Texto Anterior: 'Crescimento e igualdade caminham juntos' Próximo Texto: Salários crescem e fazem empresas migrarem Índice |
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