São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Estrangeiro acha paulistanos paranóicos

MARISTELA DO VALLE; LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

e free-lance para a Folha
Para um grupo de franceses que faz curso de especialização sobre o Brasil na Universidade de Aix-en-Provence, cidade do sul da França com 150 mil habitantes, São Paulo assusta.
No dia em que o francês Guillaume Anglade, 23, chegou ao Brasil, viu um carro fechar o outro na avenida Paulista.
"Um policial se aproximou com um revólver na mão, como se fosse atirar. Na França, os guardas só usam as armas dentro do bolso."
Anglade está no país há um mês e, junto com outros seis estudantes franceses, frequenta aulas sobre o Brasil na Escola de Sociologia e Política, no centro de São Paulo.
A colega de Anglade, Alexandra Bonnoit, 22, também presenciou uma cena violenta que a assustou. De dentro do carro, na av. Nove de Julho, viu um homem atirando em outro. "Fiquei com muito medo".
Cenas de violência, medo e a fama do Brasil no exterior podem provocar comportamentos exóticos. Como o de Hélène Dimarti, 24, num restaurante do centro.
Durante o jantar, ela saiu para ir ao banheiro e escondeu a bolsa sob o guardanapo de pano.
Mas todos os franceses do grupo dizem ter considerado a cidade menos violenta do que esperavam. Para Bonnoit, a praça da República, no centro, não é tão perigosa. "Do jeito que falavam, pensei que fosse impossível andar na praça sem ser assaltada".
Jean Philippe Bitterlin, 23, e Valérie Sidoine, 25, estranharam o medo da própria população local, que protege os prédios com grades, guarita e porteiro. "Nada disso existe na França. O pessoal daqui é meio paranóico."
Violência à parte, os franceses se impressionaram com os problemas de uma cidade grande, como pobreza, poluição e trânsito. "Fiquei chocado com a grande quantidade de crianças e velhos que dormem nas ruas", diz Bitterlin.
Anne Claude Peton, 24 prefere viajar para o interior nos finais de semana para se afastar da poluição. "Ela me causa dor no peito."
O tamanho de São Paulo é outro fator de susto. "Sinto-me num labirinto", fala Karine Rubiella, 23.
(MV e LM)

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