São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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808 State quer absorver música brasileira

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM GLASGOW

Escalado para o próximo Free Jazz Festival, o trio britânico 808 State foi uma das atrações do festival On the Beach 96 -evento realizado neste fim-de-semana, em um enorme circo armado na praia de Irvine (cerca de 40km ao sudoeste de Glasgow), na Escócia.
Como também deve acontecer no Free Jazz (dia 12 de outubro, em São Paulo; dia 13, no Rio), a dance music do 808 State esquentou a platéia para o show da cantora pop islandesa Bjork.
A dobradinha não é casual. Depois de ter Bjork como convidada, em um disco do grupo ("Ex-El", de 1991), seu fundador Graham Massey colaborou na produção do último álbum da islandesa ("Post", de 1995).
Como demonstrou no palco do On the Beach Festival, ao contrário da absoluta maioria dos grupos de dance music, o 808 State não se limita a fazer figuração enquanto baterias eletrônicas e fitas pré-gravadas reproduzem a música.
Incluindo guitarra, saxofone e instrumentos de percussão de verdade, em seus shows e gravações a dance do trio britânico tem sabor de música "ao vivo".
"Fazer música eletrônica não impede que coloquemos muita emoção nela", diz Darren Partington, que cita a banda techno Kraftwerk e os "soulmen" Marvin Gaye e Stevie Wonder entre suas influências pessoais.
Fundamental no estabelecimento da atual cena dance, o trio nasceu nove anos atrás, em Manchester, na Inglaterra. Hoje é composto por Massey (guitarra e sax), Partington (vocais e percussão) e Andrew Barker (teclados).
Parecendo conscientes de que pretendem mais do que apenas fazer música para dançar, os membros do 808 State não poupam nem mesmo os trabalhos de seus conterrâneos.
"O pop britânico está cheio de bandas que fazem uma música retrô, como o Oasis, que imita os Beatles. Acho que a música eletrônica reflete melhor os tempos de hoje", alfineta Graham Massey.
Partington concorda com o parceiro e manda farpas contra a própria cena dance. "Todo mundo diz que faz dance hoje. Há coisas boas e coisas terríveis por aí", diz, citando a banda Underworld (também presente no festival escocês), como raro exemplo de personalidade no cenário dance.
Contra os puristas
"A dance music pode combinar com o rock alternativo, com o pop, com qualquer tipo de música", diz Partington, alfinetando o purismo de grupos conservadores.
"Quanto mais purista for a música, mais fácil de desaparecer ela se torna", afirma o vocalista.
Um dos clichês do gênero dance, o sample (recurso de utilizar frases ou ritmos gravados, extraídos de algum disco já existente), também não é encarado com bons olhos pelos músicos do 808 State.
"Já nos convidaram a fazer um desses álbuns só com batidas e coisas assim. Isso é muito chato", desdenha Massey.
Um dos raros elogios proferidos pelo trio fica para Bjork. "É muito fácil trabalhar com ela", resume Massey, ressaltando o fato de a cantora islandesa dispor de uma consistente formação musical.
Quanto à possibilidade de conhecer o Brasil, o trio parece bem animado. Inclusive pelo fato de, pela primeira vez na carreira do 808 State, terem sido convidados para um festival de jazz.
"É uma vergonha que isso tenha demorado tanto a acontecer. Temos muita influência de jazz em nossa música", diz Massey, que costuma citar os jazzistas Miles Davis e Roland Kirk entre suas principais influências musicais.
Segundo Partington, apesar de não poderem ficar por mais tempo no Brasil, além dos dias reservados ao festival, o trio pretende ouvir o máximo de música brasileira que puder. E, logo que possível, retornar ao país para passar mais tempo, sem compromissos.
"Foi durante turnês pelos EUA ou pelo Japão que recebemos muitas de nossas influências", diz Partington. "É durante as viagens que se pode ouvir mais música e aprender novas coisas. Espero que o mesmo possa acontecer no Brasil."

O jornalista Carlos Calado viajou a convite da organização do Free Jazz Festival.

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