São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Parte dos sem-terra 'atrapalha', diz FHC

MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA (BOLÍVIA)

O presidente Fernando Henrique Cardoso acusou ontem setores do movimento de trabalhadores sem terra de "atrapalhar" a reforma agrária no Brasil com a ocupação de propriedades.
"Neste momento está havendo uma exacerbação desnecessária, política, por parte de alguns setores do movimento dos trabalhadores sem terra. Eles pensam que assim levam mais depressa a reforma agrária, mas está chegando a um ponto que começa a atrapalhar", afirmou o presidente.
"Eu acho que não é produtivo", completou, num intervalo do encontro de cúpula do Grupo do Rio, que reúne presidentes de países da América Latina e Caribe.
FHC disse que a reforma agrária não será interrompida. "É um programa meu de campanha e vamos levar adiante, dentro do ritmo que o país permite."
O compromisso do governo é assentar 280 mil famílias até o final do mandato de FHC, em 1998.
As negociações com os sem-terra também não serão suspensas, disse o presidente: "O governo tem feito o possível e o impossível para dialogar". Mas FHC classificou de inaceitável "do ponto de vista da legalidade" a ocupação de terras.
"O fato de ocuparem uma terra já é uma violência. Geralmente, eles alegam que essa terra não é produtiva, o que não é aceitável."
O comportamento dos trabalhadores sem terra vai influir no ritmo da reforma agrária, segundo o presidente. Mas não será o único ponto. Além do dinheiro necessário (R$ 7,2 bilhões em dois anos), o ritmo dos assentamentos depende de recursos técnicos por parte do Incra e da legislação que trata da desapropriação de terras.
Violência
FHC negou que os sem-terra brasileiros possam ser comparados aos produtores de coca bolivianos (que reclamam de falta de opções para substituírem a produção) e aos demais sinais de violência social na América Latina.
"São fenômenos diferentes e não creio que se generalize na América Latina", avaliou.
Os produtores de coca não haviam chegado a Cochabamba até as 18h de ontem. Eles iniciaram na segunda-feira uma marcha de Villa Tunare, a 169 km de Cochabamba, até onde se realiza a reunião do Grupo do Rio.
O presidente conversou com os colegas da Colômbia, Ernesto Samper, e do México, Ernesto Zedillo, que enfrentam confrontos sociais em seus países. "Na Colômbia, nitidamente existe uma relação entre o narcotráfico e essa retomada da violência, que é bastante preocupante", disse FHC.

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