São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Naturezas sinceras

JANIO DE FREITAS

A finura de Sérgio Motta conseguiu aproveitar o programa de Jô Soares, o de segunda para terça, e acrescentar um ingrediente mais indigesto às dificuldades entre Fernando Henrique Cardoso e o PPB de Maluf, surgidas dos novos rumos sugeridos ao malufismo pela eleição em São Paulo e pelas pesquisas sobre a reeleição.
A agressão verbal de Motta a Maluf pôs em discussão no PPB, já ontem de manhã, a permanência ou retirada da representação do partido no governo de Fernando Henrique. O ministro Francisco Dornelles, o pepebista da Indústria e Comércio, foi procurado por Maluf para ser inteirado de que o seu cargo passava a depender da atitude do partido em defesa do seu presidente honorário.
Os interessados na reeleição referem-se, abertamente, à necessidade indispensável do apoio de parte substancial do PPB ao projeto, prevendo a ação do governo para dividir o partido. Ou não foram muito claros na explicação a Motta ou, com mais probabilidade, a natureza outra vez se sobrepôs aos argumentos, tal como se deu com o escorpião que atravessava o rio na anedota.
Sinceridade
Por falar em reeleição, uma frase de Fernando Henrique Cardoso quando indagado a respeito, em entrevista na Bolívia:
"Nunca cogitei disso".
Mais sinceridade
Por falar em Fernando Henrique Cardoso, outra verdade e mais uma promessa, ao embarcar em Brasília para a Bolívia:
"Já consertamos 21 mil quilômetros de estradas, dos 51 mil quilômetros de que dispomos, e até o fim do meu governo 80% da malha rodoviária estará recuperada".
Enquanto o discurso mencionava a realização do governo, Lucio Vaz e Lucas Figueiredo mandavam lá mesmo de Brasília, como se viu na Folha de ontem, o levantamento dos gastos do governo, no primeiro semestre, com obras previstas no seu "plano de metas".
Para a recuperação de estradas, que no Orçamento deste ano dispõe de R$ 455,39 milhões, o governo gastou, na realidade, apenas R$ 27,81 milhões.
Obras rodoviárias brasileiras são as mais caras do mundo, ou as empreiteiras nelas especializadas não se tornariam impérios econômicos em tão poucos anos. Apesar do custo sempre recordista, Fernando Henrique Cardoso teria recuperado estradas ao preço de pouco mais de R$ 1.000 por quilômetro (R$ 1.324, ou menos de 12 salários mínimos).
Muito útil a revelação do mais recente milagre brasileiro. Já se tem uma referência para avaliar as futuras concorrências do governo para estradas.

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