São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Melindre é a maior arma do astuto Itamar

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Pobre Fernando Henrique.
Por quanto tempo ainda terá de carregar nas costas esse saco de paralelepípedos de nome Itamar Franco, só Deus sabe.
O ex-presidente que caiu no conto do vigário de uma "modelo e atriz" sem calcinhas e virou alvo de escárnio do mundo inteiro; que, em pleno fim de século, elegeu o cinquentenário Fusca como o meio de transporte ideal para o tapuia; que, por pouco, não desencadeou uma guerra diplomática entre a colônia e a Terra Mater em desastrosa atuação como embaixador de Portugal; que, nos bastidores do Congresso e Senado, é conhecido, sabe Deus por que, como "o doze", agora vem dar uma de empregada melindrada.
Sabe aquela empregada doméstica que pede as contas choramingando quando você diz a ela que o bife do almoço estava apimentado demais? Pois esse é o estilo Itamar de fazer política.
Mas a mim o vivaldino não engana, não. Esse expediente de ficar criando caso com o presidente não passa de uma artimanha rasteira, cujo único objetivo é fazer que ele, Itamar, volte a figurar na mídia, posando de estadista que teve a dignidade atingida.
Claro, Itamar sabe muito bem mexer os pauzinhos em benefício próprio. Amanhã ninguém mais vai se lembrar que a troca de farpas entre FHC e ele ocorreu porque o ex-presidente declarou ser contrário à venda de uma estatal -postura que, a esta altura, não emplaca nem mesmo com nacionalistas do tipo "O petróleo é nosso".
Comentando o método Itamar de jogar o jogo político, um meu amigo senador me disse o seguinte: "Ninguém se lembra o que comeu no almoço de ontem, não é mesmo? Pois é com isso que o Itamar conta".
E, se a gente tiver ânimo de examinar atentamente, verá que Itamar posa de otário, mas de bobo não tem nada.
Sempre que usa dessa indignação fabricada, atinge o alvo na mosca. Basta ver quantos comentaristas políticos saíram em sua defesa, depois que o Sérgio Motta o desancou, dizendo que ele não foi presidente, mas vice de Collor.
Que Itamar tenha grandes êxitos em seu novo cargo na OEA, mas que não vá para os Estados Unidos achando que a gente engoliu sua mais recente balela, de que está cansado de "receber fax com desculpas" do Planalto. Tá boa, santa?

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