São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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São Paulo arrisca liderança contra o Guarani

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O São Paulo, que pega hoje o Guarani, corre sério risco de perder a liderança. Menos pela súbita força mostrada pelos campineiros sobre o Fluminense, na última rodada, e mais pelas deficiências crescentes que o tricolor tem revelado nos dois últimos jogos.
Explico: todo engenho de articulação e força de ataque do time concentra-se no seu lado esquerdo, com a tríade André, Serginho e Denílson, uma reedição dos tempos de Leonardo, André e Muller, de Telê.
A ausência de André, claro, foi sentida. Acontece que, quando dispunha de Belletti, ainda que improvisado, na lateral direita, apoiado por Djair na meia, o tricolor tinha por ali uma alternativa, já que a tendência é o adversário concentrar toda marcação do outro lado. Mas, com Edmilson e Cláudio, nem pensar.
Edmilson é um típico médio de retração, marcador, embora tenha habilidade. Quando vira meia, porém, é um desastre. E Cláudio nem se segura como marcador implacável nem ataca como um ala agressivo e preciso nos cruzamentos. Por isso, o time fica refém de uma só combinação de jogadas e apenas do lado esquerdo.
Como essa jogada é forte demais, está escapando. Mas até quando?
*
Dizem que o Corinthians, de repente, esticou o pescoço além dos limites do velho Tatuapé. E passou a espiar com certa cupidez a África negra, de onde pretende trazer os gols de que tanto carece.
Pelo que temos visto, é só ir lá e pegar. Mas cuidado na escolha, hein!
*
No futebol, como na vida, os números são mais importantes se combinados com a percepção e observação dos olhos de quem os interpreta.
É mais ou menos que nem o samba, um ritmo binário, aparentemente fácil de ser executado. Mas tem ali embutida uma batida intermediária que é absolutamente intuitiva, sem a qual vira rumba, marcha, menos samba.
Foi o que me ocorreu ao dar com as estatísticas do Datafolha sobre o melhor passador do torneio. Lá está o beque Gilmar, do Cruzeiro, com simplesmente 100% de acerto nos passes.
Claro que se pode argumentar que um zagueiro, tocando a bola curtinha ali para o parceiro mais próximo, sempre terá menos chance de errar do que um meia inventivo que tenta um lançamento fatal, fazendo a bola correr sobre a imaginária linha que separa o êxito do fracasso.
Mas quem tem acompanhado a carreira desse moço, campeão do mundo pelo São Paulo, onde jogou de central, quarto-zagueiro, líbero e cabeça-de-área, sempre com igual desenvoltura, sabe que não é o caso, passando pela Portuguesa, onde foi considerado na temporada passada o melhor jogador da posição.
Trata-se do mais completo zagueiro de área em atividade neste país.
Ora, se Zagallo pensa em dar nova chance a Cléber, por que não lhe oferecer uma parceria à altura, com Gilmar?
Afinal, muito por causa de ambos, Palmeiras e Cruzeiro têm as duas defesas menos vazadas do torneio.
E os números não mentem jamais.

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