São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Bjork empresta seu exotismo ao festival

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM GLASGOW

Uma das figuras mais exóticas do universo pop vem para o 11º Free Jazz Festival. É a cantora Bjork, que se apresenta em 12 de outubro, em São Paulo, e dia 13, no Rio.
Depois de flertar com o punk e a new wave, na banda islandesa Sugarcubes, a irreverente esquimó deflagrou em 1993 a carreira solo que a introduziu no primeiro time pop.
"É muito excitante tocar em lugares como a Antártica, o Brasil, ou a Nova Zelândia. Para mim, que sou da Islândia, esses lugares são exóticos", disse ela, antes de sua apresentação no On the Beach Festival, no último domingo, em Irvine, na Escócia.
Bjork, 31, disse que planejava ir ao Brasil desde os tempos do Sugarcubes. "Porém, financeiramente, isso é muito difícil e eu não gosto de viver na fantasia", disse, justificando o cancelamento de sua vinda, há dois anos.
Fã da música brasileira, ela cita os nomes de Milton Nascimento e Tom Jobim, mas sua favorita é Elis Regina -homenageada com uma canção no álbum "Post", de 95 (leia texto abaixo).
Apesar de estar compondo para seu próximo disco (o terceiro), Bjork acha que dificilmente terá tempo de mostrar material inédito no Free Jazz.
Também não se mostrou animada em participar de uma "jam" com seus amigos da banda dance inglesa 808 State, que abre suas noites no festival.
"Tenho terror de 'jams'. Talvez por ter sido criada numa comunidade hippie, onde se podia falar por 12 horas sem um assunto definido", justificou.
Uma declaração curiosa para quem responde às perguntas com longas divagações, no melhor estilo hippie do "papo-cabeça".
"Acho que a música é tão importante quanto outras coisas básicas da vida", disse ela. "A música ajudou o homem a deixar de ser macaco."
Porém, quando se trata se música, ela garante que seu estilo divagativo muda. "Posso parecer uma lunática, mas minhas canções são bastante organizadas e diretas."
Bjork também é direta quando não concorda com rótulos que possam reduzir sua música.
"Fico orgulhosa quando dizem que ela é pop, experimental, divertida, triste, raivosa, jazz, punk, rock, techno, abstrata, simples, inteligente. Não acho que seja apenas dance."
A chave para entender melhor algumas contradições da islandesinha talvez esteja na definição de seu país. "De um lado, ainda somos muito primitivos. De outro, tentamos ser modernos. Vivemos uma espécie de esquizofrenia."

O jornalista Carlos Calado viajou a convite da produção do Free Jazz Festival.

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