São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Flores do crime

GILBERTO DIMENSTEIN

Os americanos descobrem nova arma contra o crime: jardins de flores.
Nascida em Los Angeles e agora aplicada em Nova York, a idéia está no elenco de projetos comunitários que conseguem reverter a violência entre jovens. A queda da delinquência juvenil é um dos fenômenos mais festejados no país, onde a criminalidade virou tema central da sucessão presidencial.
A idéia é simples e genial. O bairro escolhe terrenos abandonados, muitas vezes usados por gangues e traficantes. Ali, criam um jardim-laboratório, onde jovens, quase todos desempregados e péssimos alunos, aprendem a cultivar flores.
Os jardins têm múltiplas consequências: afastam as gangues e transmitem a sensação de ordem ao bairro, revitalizado com áreas de lazer.
Ao mesmo tempo, propiciam salário e uma profissão aos jovens, que passam de ameaça à segurança para respeitáveis cidadãos que embelezam o bairro.
Essa transição tem um toque mágico para a auto-estima dos adolescentes: as sementes fazem deles jardineiros de si próprios.
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Os projetos comunitários contra a criminalidade deveriam servir como calmante contra o tom histérico do debate no Brasil.
Exemplo de histeria é a apresentadora Hebe Camargo, em campanha pela pena de morte e pela redução da maioridade penal, transformando sincera e justa indignação em desinformação. Ela é mais uma entre os comunicadores que usam seu potente microfone para espalhar desinformação. Ao incentivar a carnificina, ganham pontos de audiência, mas atrapalham o país.
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Os segredos por trás da queda da criminalidade em Nova York são, basicamente, dois. Primeiro: mais e melhores policiais nas ruas (São Paulo está abandonada à própria sorte; onde está a PM?). Segundo: os milhares (repito, milhares) de projetos que tentam dar ao jovem uma chance.
Pergunte, por exemplo, a Hebe Camargo: se ela estivesse desempregada, com filho doente, sem dinheiro para comprar comida. Passasse diante de uma banca de frutas, sem ninguém olhando. Pegaria uma fruta?
Imagine se, por acaso, ela fosse presa, sofresse violência, tortura. Como se sentiria diante da sociedade?

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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