São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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O VÍRUS DA GUERRA

A violência internacional é como um vírus, sempre no ar, que pode provocar crises maiores ou menores sempre em função do "grau de resistência" dos organismos. É, portanto, como todo vírus, de natureza essencialmente oportunista.
A escalada no Iraque ilustra-o à perfeição. É também um exemplo da extrema precariedade dos atuais organismos políticos internacionais, a começar das Nações Unidas, que em tese deveriam atuar como "anticorpos" diante desses riscos.
A própria ONU informou que as tropas iraquianas haviam batido em retirada na segunda-feira. Os EUA consideraram a retirada insuficiente e o presidente Clinton, um dia depois de criticado pelo candidato republicano Dole por fragilidade frente ao Iraque, ordenou o bombardeio.
Parece portanto evidente que, de um lado, a ONU esteja reduzida a um papel meramente decorativo e, de outro, que a decisão norte-americana foi tomada sob influência de fatores domésticos, eleitorais, como aliás afirmou o governo russo.
Ao mesmo tempo, o próprio Saddam Hussein deve ser considerado como o oportunista-mor. Cabe aliás lembrar que o Iraque estava às vésperas de retomar as vendas de petróleo no mercado mundial em troca de alimentos, sob vigilância das potências ocidentais, em especial dos EUA.
Invadir a região curda, que está sob proteção internacional, é novamente recorrer ao velho expediente de buscar um inimigo ou bode expiatório externo para justificar ou compensar as dificuldades internas.
O mundo está sem instituições supranacionais estáveis e confiáveis. A hegemonia dos EUA significa também que aumentam os riscos de a segurança mundial ficar às vezes submetida aos imperativos internos da grande potência. O Oriente Médio está hoje sujeito a tensões crescentes, com ditadores feudais dispostos a tudo em nome de fanatismos.
Não é de espantar que o vírus da guerra encontre mais uma vez oportunidades para infectar o mundo.

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