São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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ACM é 'coroado' imperador da Bahia

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Visto tanto pelos amigos quanto pelos inimigos como uma espécie de imperador da Bahia, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) comemorou ontem os seus 69 anos ganhando uma coroa.
O aniversário de ACM -o mais baiano dos baianos, nas palavras de monsenhor Gaspar Sadock- literalmente parou Salvador.
O trânsito na cidade, normalmente difícil, ficou caótico ontem de manhã, em parte devido à agitada agenda do aniversariante.
ACM ganhou missa às 10h na igreja Nosso Senhor do Bonfim, inaugurou obra no Pelourinho na hora do almoço, esteve à tarde no Aeroporto Internacional 2 de Julho e, à noite, iria participar de comício de Antônio Imbassahy, o candidato do PFL à prefeitura.
Cerca de 3.000 pessoas, segundo cálculos da direção da igreja do Bonfim, assistiram à missa rezada pelo monsenhor Sadock.
"Quatro de setembro: nem o governo decretou feriado nem a igreja decretou dia santo. No entanto, Estado e igreja estão juntos rezando por Antônio Carlos", disse o monsenhor, dando o tom do evento.
"Não estamos aqui para abraçar, estamos aqui para agradecer, agradecer a esse intimorato empreendedor", acrescentou.

Festa eleitoral O aniversário do "grande líder da Bahia", na definição do governador do Estado, Paulo Souto, foi tema nos últimos dois dias da propaganda eleitoral de Imbassahy.
Ontem de manhã, a TV Bahia exibiu anúncios de 30 segundos de todos os candidatos -menos de Imbassahy. Em compensação, um anúncio de 30 segundos convocou a população para a missa que seria rezada em homenagem a ACM.
Segundo a última pesquisa Datafolha, de 2 de setembro, Imbassahy lidera a disputa com 45% das intenções de voto, mais do que a soma dos demais candidatos.
O primeiro "Parabéns a Você" a ACM foi cantado às 9h30, no pátio do prédio onde mora, no bairro da Graça, por 30 alunos de uma escola particular arregimentados por um candidato a vereador, Manoel Lima, o "Táxi Lima".
Colocada próxima ao prédio, uma faixa saudava o senador: "ACM, Leão da Bahia".
Manuel Salvelino de Santana, conhecido como "Maninho da Laranja", também apareceu no prédio com seu grupo de música. Produtor de laranja em Alagoinhas (a 108 km de Salvador), Maninho disse que foi convidado por um assessor de ACM, Edevaldo Pereira Lima, que retrucou dizendo que o músico veio espontaneamente.
"Sempre trago uma laranjazinha para ele (ACM), e o Edevaldo disse que seria bom eu vir no dia do aniversário", disse Maninho.
ACM agradeceu pessoalmente a todas as crianças e aos músicos que estiveram em seu prédio -ritual que repetiu, para desespero de seus seguranças, entre as milhares de pessoas que foram saudá-lo na igreja do Bonfim.
"É o povo que me dá energia", repetia ACM, cercado de jornalistas, seguranças e admiradores, que literalmente lutavam para se aproximar do senador dentro da igreja.
Numa cena que nem Glauber Rocha em seu delírios barrocos imaginou, faixas de apoio a alguns vereadores e a Imbassahy chegaram a ser abertas dentro igreja, mas foram logo guardadas.
Em meio ao tumulto, o escritor Fernando Morais ("Chatô" e "Olga"), que está "começando" a escrever uma biografia de ACM, perguntava: "Você já viu algo igual?".
Tanto ao chegar quanto ao sair da igreja, ACM andou entre as pessoas que se empurravam para conseguir tocá-lo, passar um bilhete ou simplesmente serem vistas. "Dá um adeus de longe. Se ele te ver, já tá bom", ensinou um vereador a um colega.
O jornalista Paolo Marconi, que trabalhou como assessor de imprensa de ACM quando ele foi governador da Bahia, informou que a coroa dada de presente ao senador foi um presente de um grupo de amigos e ex-assistentes. "Ele gosta de objetos sacros", explicou.
Sempre tendo o governador Paulo Souto e o candidato Antônio Imbassahy atrás, ACM andou pelas ruas do Pelourinho, onde foi saudado por uma "guerra musical", travada por integrantes do bloco afro Muzenza, da banda Didá e do afoxé Filhos de Gandhi.
Em meio à confusão e ao barulho, de repente alguém gritou "silêncio" -e se fez silêncio. Então, ACM, o imperador da Bahia, inaugurou a obra. "O carinho do povo é esperado. Mas é sempre maior do que posso imaginar", disse.

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