São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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'Não estou candidato à Presidência', diz Lula

CLÓVIS ROSSI
DA REDAÇÃO

Luiz Inácio Lula da Silva, o líder histórico do PT, diz que não "está" candidato à Presidência da República para o pleito de 1998.
Não o seduziu nem sequer o fato de estar empatado na liderança das preferências populares, nas 12 capitais pesquisadas pelo Datafolha, com o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB).
Mais do que não estar candidato, Lula conta que orientou o partido a libertar-se da idéia de que ele é o "candidato natural", sempre que se fala em disputa presidencial.
O projeto de Lula para o ano que vem é mais amplo: "Criar uma frente suprapartidária para 1998, capaz de oferecer um projeto alternativo ao neoliberalismo, envolvendo personalidades políticas, intelectuais, artistas, sindicalistas, empresários e lideranças das igrejas católica e evangélica".
É exatamente o empenho na construção dessa frente que faz Lula rejeitar a tese da "candidatura natural".
Para ele, dificulta qualquer negociação em torno de uma frente o fato de um de seus componentes já ter um candidato para liderá-la no momento mais importante, que é a disputa presidencial.
No âmbito político, os nomes que Lula lista como parceiros possíveis e desejáveis nessa frente pertencem a partidos com os quais o PT tem mais diferenças do que convergências.
É o caso dos senadores Roberto Requião (PR) e Pedro Simon (RS), ambos do PMDB, do também senador Carlos Wilson (PE) e do ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes, os dois do PSDB.
Inclui também o ex-presidente Itamar Franco, hoje sem partido, cuja gestão foi alvo de duras críticas do PT.
Dessa frente sairia, antes de uma candidatura, o que Lula chama de "contraponto à loucura do neoliberalismo", na forma de propostas de desenvolvimento, de política industrial e tributária, de reforma agrária e de medidas na área social, "a prioridade zero".
Lula diz que não se surpreendeu com os 19% obtidos no mais recente Datafolha, embora tenha ficado ausente do noticiário desde a eleição presidencial.
Aproveita para criticar a chamada grande imprensa: "Se dependesse só dela, estaria na clandestinidade", diz.
Mas conta que tem viajado o país todo desde a derrota para FHC em 1994, a ponto de gabar-se de "estar fazendo mais campanha agora do que na campanha de 1994".
Embora não esteja candidato, Lula mantém o discurso crítico em relação aos seus dois companheiros de liderança na pesquisa do Datafolha.
Sobre FHC, diz: "O que mais me decepciona no Fernando Henrique é ter descoberto que ele não está conservador por causa do PFL, mas porque a cabeça dele está conservadora".
Sobre Maluf, afirma: "Vai começar a quebrar a cara porque exagerou na dose da lorota".
A Folha confirmou junto aos próximos de Lula que é real a sua disposição de, pelo menos por ora, não ser candidato.
Mais do que isso: o PT trabalha, por enquanto, com a tese de apoiar eventualmente um candidato que não seja do partido, desde que tenha um mínimo de afinidade com ele e razoável viabilidade eleitoral.

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