São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Receita neoliberal já contempla o social

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mudou o Consenso de Washington, considerado por muitos como a receita liberal básica dos governos latino-americanos nos últimos anos.
Segundo John Williamson, o "pai" do Consenso de Washington, não se trata de um abandono, mas de uma adaptação.
Ele disse ontem, em entrevista à Folha por telefone, de Washington, que agora é importante incluir nos modelos de liberalização maior cuidado com o social, com a educação e com a criação de instituições que aumentem a "governabilidade" da economia. Ele defendeu cautela no uso do câmbio.
Williamson, que enunciou em 1989 o que veio a ser conhecido como Consenso de Washington, diz que nunca subscreveu a idéia de que se trata de um receituário neoliberal.
E afirma que os novos princípios por ele enunciados em seminário que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está promovendo desde segunda-feira em Washington, são a rigor mais consensuais que os de oito anos atrás.
O problema implícito é que a América Latina conseguiu superar o fantasma da hiperinflação, mas ainda não encontrou um modelo de crescimento adequado. O que é pior: a receita que levou à derrota da inflação pode conter ela mesma algumas armadilhas que dificultam a retomada do desenvolvimento.
Outra linha de revisão crítica parte dos japoneses. O diretor de assuntos financeiros do Ministério da Fazenda do Japão, Eisuke Sakakibara, por exemplo, lembrou que não existe um modelo único de capitalismo. Outro economista japonês presente ao encontro, Mitsuhiro Kagami, Do Institute of Developing Economies de Tóquio, acrescenta que se trata de diferenciar entre os modelos anglo-saxão e nipo-germânico.
Kagami será o comentador, hoje, do trabalho que Albert Fishlow apresenta, insistindo na importância de aumentar a poupança doméstica, combater a desigualdade, ter disciplina fiscal e cuidar do meio-ambiente nas economias mais pobres. O Consenso sempre deu mais ênfase à liberalização comercial e ao ajuste fiscal.
A abertura comercial com câmbio congelado está em debate no seminário. Se não houver medidas simultâneas no sentido de aumentar a produtividade e a infra-estrutura social, o resultado pode ser um processo de destruição econômica irreversível.
Sobre câmbio, Williamson critica a banda estreita do Brasil. Ele diz que o sistema aproxima-se, na prática, do chileno, mas com a desvantagem de ainda criar incerteza no médio prazo.

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