São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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'Mahâkâl' é novidade da Índia

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O espetáculo "Mahâkâl", que o grupo dirigido por Chandralekha apresenta a partir de amanhã no 6º Festival Internacional de Artes Cênicas, promete revelar as inovações que esta coreógrafa de 67 anos introduziu na dança indiana.
Embora na juventude tenha sido estrela da dança clássica "bharatanatyam", ela recusou-se a fazer da tradição um dogma.
Valendo-se de uma mentalidade cosmopolita, rejeitou preceitos de sua cultura, como religiosidade e patriarcado, que faziam da mulher seguidora de Deus e dos homens.
"Não me considero uma opositora da tradição", diz Chandralekha. "Para mim, tradição é algo que flui constantemente. Se congelada, vira um molde."
Por causa de seu comportamento livre e aberto, Chandralekha é considerada transgressora na Índia. O jornal "Indian Post" a definiu como uma "diva insolente".
Em contrapartida, na Europa, é cultuada como pioneira da dança moderna indiana.
Para ela, dança é uma linguagem universal, que não se resume aos valores e costumes de seu país.
"Não dançamos num vácuo social, mas no sentido de acumular energia dentro de nós mesmos, torná-la transparente e conduzi-la aos espectadores. No mundo atual, não é possível refugiar-se na exclusividade."
Escândalo
Filha de um médico que a estimulou a ter idéias próprias, Chandralekha ingressou na faculdade de direito antes de decidir-se pela dança.
Na época, uniu-se a Harindranath Chattopadhyay, intelectual que a iniciou na poesia, dança, ciência e no estudo de idiomas.
Viveram juntos sem se casar, causando escândalo também pela diferença de idade.
Já consagrada em seu país como bailarina solista, Chandralekha abandonou os palcos durante 12 anos para se dedicar a causas feministas e ecológicas.
Em 1984, retomou a carreira, ao coreografar a peça "Angika", tida como um marco na história recente da dança indiana.
Em "Angika", Chandralekha revelou suas novas propostas, lançando uma fusão que integra as energias interiores do "bharatanatyam" a um minimalismo abstrato, além de preceitos da ioga e das artes marciais.
Retirando os aspectos decorativos e narrativos da dança clássica indiana, Chandralekha faz do corpo o centro do universo, onde se confundem energias masculinas e femininas, vida e arte.
Espiral
"Mahâkâl", sua última criação, é um sucesso internacional, já apresentada no Japão e na França, no festival de Avignon.
"É uma peça sobre o tempo. Não o tempo linear, contado em direção à morte, mas o tempo como um elemento circular, em movimento espiral", ela explica.
"Dentro desse conceito, exploramos também vários aspectos do tempo, como o espaço dentro e fora de nossos corpos, em direção ao cosmo."
Para Chandralekha, o tempo possui dimensão múltipla. "A passagem do tempo transforma cada momento de nossas vidas. Cada instante é eterno, pois contém uma pulsação infinita."

Espetáculo: "Mahâkâl"
Grupo: The Chandralekha Group Madras
Quando: amanhã e sábado, às 21h; domingo, às 19h
Onde: Teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245; tel. 011/256-2281)
Quanto: R$ 25

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