São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Guerra nos Bálcãs vai ao palco

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Duas ex-repúblicas iugoslavas se apresentam no 6º Festival Internacional de Artes Cênicas: "Emma, Essays", da Croácia, que estréia hoje, e "Silence Silence Silence", da Eslovênia, que estréia amanhã, ambas no teatro Ruth Escobar.
A guerra nos Bálcãs é tema recorrente nas duas montagens.
Baseada em um conto de Jorge Luís Borges, a peça "Emma, Essays" narra a história de uma moça que assassina um rapaz.
Ela mente para a polícia, dizendo que o matou porque ele queria estuprá-la. Para dar veracidade ao fato, Emma faz com que um marinheiro a violente.
Guerra e vingança
"Os grandes temas da peça são a vingança e a violência, além da crítica ao governo croata", explica o diretor Branko Brezovec.
Perguntas sobre a guerra deixam os atores visivelmente apreensivos. "É um assunto delicado: a guerra está muito presente nessa montagem, até pela escolha do texto", diz Catherine Duflot, única atriz francesa do grupo.
Essa é a primeira turnê do espetáculo, que estreou em junho no festival Eurokaz, da Croácia.
Além dos atores, "Emma, Essays" conta com cem slides e um monitor de TV, onde serão projetadas imagens de um filme feito por um integrante da companhia.
No início da peça, um ator brasileiro vai ler o conto de Borges, em português. Os slides e o filme terão legendas em inglês.
Brezovec explica que o objetivo é "aproximar o público estrangeiro da peça".
Sem palavras
O que é o silêncio e qual é o seu significado? Essas questões levaram o diretor esloveno Vito Taufer a criar "Silence Silence Silence".
A montagem, que estreou em fevereiro deste ano, trata da "crise da língua", da sensação de horror diante da pobreza das palavras.
Na Eslovênia, os ensaios foram realizados em um antigo mosteiro, que, segundo Taufer, "tinha tudo, menos silêncio".
"No início, eu só tinha em mente o título, 'Silence'. Pedi para os atores conseguirem máscaras e, a partir delas, desenvolvi o resto", conta.
O espetáculo é composto por cinco "monólogos", como define o próprio diretor, apesar de os atores não pronunciarem uma única palavra.
Taufer tem explicação para tanto silêncio: "Para mim, o mais essencial no teatro é a presença do silêncio. Procuro colocar a tônica no que o ator está vivenciando no palco".
Distâncias
Taufer conta ainda que, durante alguns meses, trabalhou na Croácia e, nos fins-de-semana, voltava para a Eslovênia.
No caminho, ia percebendo o quanto a guerra estava distante de seu país.
Esse isolamento esloveno -geográfico e cultural- é retratado em "Silence Silence Silence", assim como a guerra, bastante presente no discurso do diretor.
"Venho de um país destruído -e não estou falando de metáforas, mas da realidade."

Peça: Emma, Essays
Direção: Branko Brezovec
Com: Jasna Bery, Catherine Duflot e Sinisa Miletic
Quando: hoje a sábado, às 21h
Peça: Silence Silence Silence
Com: Janja Majzelj, Natasa Sultanov, Robert Prebil e outros
Direção: Vito Taufer
Quando: amanhã e sábado, às 21h; domingo, às 19h
Onde: teatro Ruth Escobar (r. dos Ingleses, 209, SP, tel. 289-2358)
Quanto: R$ 25

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