São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996 |
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Claude Lelouch lança moda do político-ator
LEON CAKOFF
Candidato a melhor ator em Veneza, Tapie está perto de um álibi perfeito para amenizar as acusações que pesam contra ele, de forte corrupção como ministro, abuso de poder e fraudes superiores a US$ 2 milhões. Se no Brasil tudo termina em pizza para os políticos, Tapie reforça a impressão de que na França tudo pode terminar em cinema. É preciso dizer logo: o filme de Lelouch, 58, o 35º de sua raivosa carreira, sempre capaz de provocar a ira da imprensa e o amor do público, é muito bom. Autor do próprio roteiro, Lelouch define o filme como uma fábula, uma comédia desumana. "Homens, Mulheres..." é uma homenagem a atores e artistas com vários níveis de frustração. Gente que desempenha na vida real papéis brilhantes e que ainda não ganhou o reconhecimento público. A primeira a aparecer em cena "atuando" é uma viúva (Anouk Aimée) que, vestida de preto no cemitério, pede caronas a ricos viúvos, para depois namorá-los e extorqui-los. Quem a observa admirado, de longe, é um policial e ator de teatro frustrado que extravasa sua arte aproximando-se de escroques. Até o amor à primeira vista de dois adolescentes tem base na frustração artística. Ele se apresenta como o centroavante juvenil. Ela, como bailarina bolsista da Ópera de Paris. Vão passar o filme todo se procurando em lugares errados por causa da mentira. Tapie entra em cena com toda a carga do seu passado político real. É um megaextravagante empresário que tem por hábito cantar mulheres reservando todas as mesas de restaurantes sofisticados. Como políticos poderosos, o Tapie do filme também tem o poder de Midas. O que toca vira ouro. Cruza com o policial-ator numa clínica, onde ambos fazem exames sob suspeita de câncer. O destino se encarrega do resto. Um tem câncer e o outro, não, mas os diagnósticos são trocados. No olimpo dos políticos brasileiros, depois de "Homens, Mulheres...", o cinema deveria ser pensado com mais prioridade. ACM já deveria reclamar um papel de prefeito de interior numa próxima adaptação de Jorge Amado. Maluf e Pitta ficariam ótimos como Mandrake e Lotar. FHC poderia reviver seu exílio com roteiro de Antonio Skármeta. E Collor cairia bem no papel de canastrão cucaracho made in Miami. Como prova de que nada disso é impossível, está no ar mais um convite de cinema para Bernard Tapie: como Che Guevara, numa produção americana da Warner. Texto Anterior: "Amor e Outras Catástrofes" é revelação Próximo Texto: Festival português inclui ciclo de filmes brasileiros ; Ciclo brasileiro Índice |
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