São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Para quando você for a The Hamptons, NY

DAVID DREW ZINGG
DE THE HAMPTONS, LONG ISLAND

Quer dizer que The Hamptons é ISTO?
Isto daqui não se parece com a The Hamptons que tio Dave conhecia meros 40 aninhos atrás, quando frequentava este lugar.
Naquela época, The Hamptons era onde a gente ia passar férias de verão bem baratinhas. Eu alugava uma casa de praia por US$ 750, as férias inteiras, e achava que estavam me roubando.
Uma cerveja custava dez centavos de dólar, e a gente viajava de Nova York a The Hamptons no trem mais lerdo do mundo por cinco verdinhas, ida e volta.
Mas de lá para cá as coisas mudaram um pouquinho.
Hoje em dia a maior parte do "moolah" da Gringolândia vem passar os meses do verão aqui em The Hamptons, para ver e ser vista.
A riqueza concentrada presente aqui durante a frenética temporada do verão é tanta que, se mais uma única figura milionária carregada de diamantes se mudar temporariamente para cá, a ilha corre o risco de afundar silenciosamente no oceano Atlântico.
The Hamptons é uma espécie de acampamento de férias de luxo para os estupendamente ricos que o frequentam, vindos de Nova York e Hollywood.
Com toda certeza, Joãozinho, não é lugar para gente humilde como você e eu, que mede suas despesas em números de dois algarismos. Veja só como é barato chegar até aqui.
Como chegar
Todas as sextas-feiras no verão, figurões nova-iorquinos que não têm tempo nem disposição de se arrastar pelas estradas coalhadas de trânsito criam asas prateadas.
Bandos de pássaros empresariais e particulares migram para o leste para depositar seus preciosos passageiros no heliporto de fundo de quintal que é marca registrada de todo "chalé" multimilionário.
O pessoal modesto que possui fazendas de dinheiro, como a Time-Warner ou a Revlon, e vendedores de trapos, como Ralph Lauren, voam em busca da vida simples à beira-mar.
À arraia miúda -pessoas como Steven Spielberg, por exemplo-, não resta outra opção senão alugar o Sikorsky 76 da Jet Aviation Company.
Esse modesto aviãozinho já está reservado para todos os dias do verão e faz o vôo de 28 minutos por irrisórios US$ 3.000. Só ida.
Mesmo que você esteja capacitado e sedento o suficiente para tomar uma garrafa inteira da champanhe Crystal oferecida de graça no vôo, só poderá fazer uma dedução mental de US$ 150 do preço.
Aqui em The Hamptons há uma estilista chamada Adrianne Vittadini. Ela tem um hidroavião fretado que a deixa na praia logo em frente a seu quarto.
O fim-de-semana nova-iorquino em The Hamptons é uma experiência única. Durante os meses de calor os nova-iorquinos viram brasileiros.
Nos escalões financeiros superiores da sociedade de Manhattan não se espera por um convite para jantar num sábado à noite, especialmente se o tempo estiver bom.
Qualquer pessoa que tiver dinheiro suficiente para te convidar para jantar provavelmente tem dinheiro suficiente para sair da cidade -e é isso, com certeza, que fará.
Essa informação básica à sobrevivência foi fornecida por um observador de longa data das classes altas, Richard Reeves.
Sobrevivência
A verdade é que os nova-iorquinos não suportam ficar sozinhos. Por isso todos fazem o possível para ir ao mesmo lugar.
Esse lugar é -isso mesmo, adivinhou!-, cada vez mais, The Hamptons.
The Hamptons já foi descrita como Manhattan sem pobres ou a rua 57 com dunas de areia.
Aqui vão algumas informações de sobrevivência aleatórias, porém importantes, para você usar quando resolver tirar as economias de sua vida toda do banco e vir para cá.
Fique longe: de mulheres que te perguntam como chegar à casa de John F. Kennedy; da polícia local (foi treinada pelo Mossad); de qualquer garota solteira que passou o inverno inteiro deste ano aqui.
Procure conhecer: qualquer pessoa que tiver uma quadra de tênis ou livre acesso à praia (chegar até a praia é complicado e custa caro).
Se você quiser andar realmente bem vestido aqui, vista qualquer coisa que você usaria: na academia de ginástica ou no rio Amazonas; para plantar arroz no Vietnã, milho em Minas Gerais ou rosas na Inglaterra; para remar numa gôndola em Veneza ou para invadir o Peru; para ganhar o Grand Prix, a Tour de France ou o torneio de Wimbledon; para cobrir a guerra na Tchetchênia ou participar do rodeio de Barretos.
A única exceção é a seguinte: não é permitido usar meias.
Para aqueles entre meus fiéis que acham que um endereço à beira-mar não basta para levá-los às páginas socialmente significativas da revista "Caras", vou citar alguns preços vigentes por aqui.
Na rua que leva o nome curiosamente apropriado, porém seriamente dado, de Gin Lane, o aluguel de uma casa de veraneio te custará cerca de 250 mil verdinhas graúdas.
Viver barato
Se você é daqueles que só se contentam com O Melhor, tem a opção de vender suas ações da engarrafadora local de Coca-Cola e pagar US$ 14 MILHÕES pela "melhor casa de praia disponível em The Hamptons", segundo comentário ouvido numa festa.
Outra opção, porém, seria usar o mesmo dinheiro para comprar um país sul-americano de dimensões pequenas, que já vem completo com um lago a 1.600 metros de altitude, o Titicaca, e acesso livre a suas praias para um número irrestrito de seus amigos.
Quando se comete esse tipo de suicídio financeiro internacional, ganha-se alguns vizinhos bastante respeitáveis de quem se pode emprestar um pouco de pó de café, quando preciso.
Pense no prazer que você terá ao fazer fila para comprar o jornal matutino. A Folha local aqui em Cashamptons se chama "The New York Times", e os nomes de seus novos vizinhos figuram na maioria de seus artigos.
Uma lista aleatória de seus novos amigos incluiria o acima-mencionado Kennedy. Melanie Griffith mora alguns metros adiante.
Se você quiser ouvir a mais recente fofoca sexual da Casa Branca de Bill Clinton, é só ligar para Kay Graham, que mora aqui ao lado, e ela terá prazer em lhe emprestar seu próprio exemplar de seu próprio "Washington Post".
"The Hamptons" é o nome dado a uma área que engloba vários municípios independentes, e todos eles têm mais figuras públicas do que gente simples e normal como eu e você.
Depois de algum tempo, você se cansa de topar no supermercado com o tipo de gente que você normalmente tem que pagar para assistir, para ler ou para ler sobre.
Quem é?
Entre essas pessoas figuram Lauren Bacall, Peter Mathiessen, Caroline Kennedy, Kurt Vonnegut, Chevy Chase, Kim Basinger, Faye Dunaway.
Clay Felker, Joe Heller, Billy Joel, Donna Karan, Calvin Klein, Sidney Lumet, Lee Radziwill, Saul Steinberg, Ralph Lauren, Edward Albee.
Paul Simon, E.L. Doctorow, Alan Alda, Bruce Jay Friedman, Roy Lichtenstein, Tom Wolfe, Robert Benton, Bud Schulberg e Larry Rivers (o pintor/músico cuja célebre banda de jazz lidera sozinha um "revival" da bossa nova e com quem jantei ontem à noite). Ufa!
"Waall", como diz Paulo Francis, a lista acima citada constitui apenas uma parte minúscula -a parte que eu imaginei que você conheceria- da lista total de celebridades, que se estende aparentemente ao infinito.

Tradução Clara Allain

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