São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Clinton declara "missão cumprida"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, disse ontem que, "por enquanto", a missão militar contra o Iraque "está cumprida".
Segundo ele, todos os objetivos militares do país foram atingidos: o governo de Saddam Hussein "pagou o preço" pela agressão de sábado passado contra a cidade curda de Arbil, uma nova zona de exclusão aérea no sul do Iraque foi implementada, e nenhuma vida norte-americana foi perdida.
Clinton não descartou a possibilidade de novos ataques se outras "provocações" acontecerem.
A primeira série de mísseis (27), lançada na manhã de anteontem, foi completada por outra (de 17 mísseis) no começo da madrugada de ontem. No total, seis pessoas morreram, e 26 ficaram feridas. Cada míssil lançado contra o Iraque custa cerca de US$ 1,2 milhão.
O Departamento da Defesa dos EUA negou que um terceiro ataque com mísseis, desta vez contra Bagdá (capital), tenha ocorrido ontem. Porta-vozes do governo iraquiano relataram o suposto ataque a jornalistas americanos.
Clinton, 50, aparentava extraordinário cansaço ao proclamar vitória em encontro com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca.
O presidente teve extraído quisto sebáceo benigno do lado esquerdo de sua garganta em microcirurgia de 12 minutos realizada com anestesia local na Casa Branca.
O secretário de Defesa, William Perry, afirmou que dois jatos MiG iraquianos se aproximaram de um outro aparelho F-16 norte-americano, mas deram meia-volta.
A nova zona de exclusão aérea impede que aviões militares do Iraque voem sobre seu território desde a fronteira com o Kuait até as proximidades de Bagdá. Incluída a zona de exclusão aérea do norte do país, os aviões militares iraquianos não podem voar em metade de seu espaço aéreo.
Saddam Hussein havia ordenado anteontem que seus pilotos ignorassem as zonas de exclusão aérea. Mas, apesar das duas escaramuças registradas ontem, o Iraque não parece disposto, pelo menos por enquanto, a desafiar os limites impostos pelos EUA. Dezenas de aviões baseados no sul do Iraque foram transferidos para Bagdá no início da manhã de ontem.
Pesquisas de opinião pública mostram que a imensa maioria dos norte-americanos apóia a operação militar contra o Iraque (79% dos entrevistados pela rede de TV ABC), mas poucos (21%, de acordo com a mesma pesquisa) acreditam que ela vá pôr fim a violações pelo Iraque do acordo de trégua da Guerra do Golfo, de 1991.
A crise iraquiana diminuiu ainda mais as possibilidades de vitória do candidato da oposição, Bob Dole, na eleição de novembro.
Ele está sendo criticado por ter feito na segunda-feira acusações contra a "fraqueza" de Clinton diante de Saddam Hussein.
Um dos mais populares aliados de Dole, o general Colin Powell, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos durante a Guerra do Golfo, deixou claro, em entrevista à rede CNN de TV, não ter gostado dos comentários de Bob Dole.
Powell disse que a ação de Clinton foi "certa" e "apropriada". Ele também se defendeu e o ex-presidente George Bush pela decisão, em 1991, de não continuar a Guerra do Golfo até a deposição de Saddam Hussein: "Nossa missão era ejetar as tropas iraquianas do Kuait, e ela foi atingida".
Os preços de petróleo caiu em Nova York US$ 0,16 em relação à véspera para US$ 23,24, sinal de que os mercados financeiros acreditam que a crise está superada.

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