São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Saiba como funcionam os Tomahawk

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um filho bastardo da Guerra Fria está agora servindo aos americanos para bombardear o Iraque sem correr riscos: o míssil cruise -de cruzeiro-, que voa como um avião sem piloto e se guia pelos acidentes do terreno pré-programados em computador interno.
O fato de não ter um piloto a bordo evita o risco para o presidente Bill Clinton de ter um americano morto, ou pior, em termos políticos, prisioneiro dos iraquianos, durante um ano eleitoral.
Seu ancestral foram as bombas voadoras V-1, pequenos aviões sem piloto que a Alemanha usou no bombardeio a Londres na Segunda Guerra Mundial.
Já os mísseis modernos surgiram como um meio para as Forças Armadas dos EUA driblarem os acordos de limitações de armas estratégicas com a então URSS.
Os acordos estavam mais interessados em fiscalizar os grandes mísseis balísticos e no número de bombardeiros.
Poder de fogo
A solução foi criar um míssil simples, pouco mais que um avião sem piloto, mas com eletrônica sofisticada, para aumentar o poder de bombardeiros como o B-52.
Cada avião levaria, em vez de apenas uma grande bomba nuclear, até 20 mísseis (o número dependia do modelo). E cada míssil tinha uma bomba nuclear de cerca de 200 kilotons (equivalente a 200 mil toneladas de TNT, algo como dez bombas de Hiroshima).
Para não ficar atrás da Força Aérea, a Marinha dos EUA criou o seu próprio míssil cruise, o Tomahawk, que pode ser lançado de submarinos, cruzadores e destróieres. "Tomahawk" é o nome de um machado de guerra de índios norte-americanos.
Quando usados com explosivos convencionais, são chamados de CALCM (Conventional Air-Launched Cruise Missile, ou míssil de cruzeiro convencional lançado do ar) e TLAM (Tomahawk Land-Attack Missile, míssil de ataque terrestre Tomahawk).
Esses mísseis são guiados por dois métodos complementares: INS (sigla para Inertial Navigation System, sistema de navegação inercial) e Tercom (Terrain Contour Matching, ou comparação com contornos do terreno).
O INS é o equipamento que mede continuamente as acelerações às quais o míssil está sujeito, integra os dados com o tempo transcorrido e produz uma sequência precisa da velocidade e distância percorridas para posicionar com precisão o míssil em relação ao seu ponto de origem.
Já o Tercom emprega um radar-altímetro capaz de observar o terreno sobre o qual o míssil voa, comparar com mapas armazenados na memória do computador de bordo e fazer desvios.
A precisão teórica desses mísseis é impressionante. Lançados de mais de mil km de distância, podem acertar dentro de um círculo de 30 metros de diâmetro.
Conseguem, portanto, acertar um prédio específico dentro de uma cidade, guiados por avenidas, antenas de rádio, estádios e outros capazes de ajudar na navegação.
Porém, nem sempre são precisos. O comando americano parou de usá-los durante a Guerra do Golfo, em 1991, depois que alguns deles atingiram civis em Bagdá.
A Marinha usou 298 TLAM na guerra (custo unitário de US$ 1,1 milhão) e a Força Aérea empregou 35 CALCM (US$ 1,5 milhão cada).
Esse caro, mas pouco arriscado, método de castigar o inimigo voltou a ser usado em 1993. Em 17 de janeiro, foram lançados 45 TLAMs, dos quais 37 acertaram os alvos; em 26 de junho foram usados mais 24 desses mísseis, dos quais 16 acertaram.

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