São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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O GROTESCO ELEITORAL

Tem sido motivo de críticas reiteradas o fato de que os candidatos às prefeituras municipais foram transformados, na campanha em andamento, em equivalentes a iogurtes, sabonetes ou refrigerantes.
A crítica é pertinente. Mas um mínimo de realismo manda admitir que a crescente influência, talvez hegemonia, do marketing político, responsável por tal transformação, parece estar se tornando irreversível.
O problema se agrava, no entanto, quando se nota o surgimento de um subproduto ainda mais inconveniente dessa tendência. Numa ponta, tem-se a incorporação à campanha de José Serra (PSDB) da chamada "garota da banheira", Luiza Ambiel, cuja notoriedade decorre, única e exclusivamente, de exibir-se seminua em um programa de auditório.
Exibir dotes físicos de quem quer que seja como forma de tentar capturar votos é grotesco, em qualquer circunstância, mas mais ainda quando está muito longe de combinar com a imagem de austeridade que José Serra tenta passar.
Tem-se, aí, algo mais do que marketing político. Chega-se, para usar uma só palavra, ao deboche.
Não é diferente a versão vendida à mídia pelos partidários de Francisco Rossi (PDT), segundo a qual ele teria incorporado o Espírito Santo e falado uma língua incompreensível durante culto em igreja evangélica.
Parece pouco provável que o Espírito Santo tenha título de eleitor em São Paulo ou se anime a fazer incursões de cunho eleitoral.
Seria apenas ridículo, não houvesse um nítido intento de explorar a boa fé dos crentes.
Esses dois exemplos podem ser os mais chocantes, mas nem de longe esgotam o elenco de exageros que a campanha oferece. Os próprios políticos parecem empenhados em colaborar para o descrédito desse tipo de atividade -fundamental para a vida democrática, é bom frisar-, constatado em várias pesquisas.

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