São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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Quatro são mortos em morro ocupado

CRISTINA RIGITANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A estudante Damiana Manhães, 14, e outras três pessoas foram assassinadas ontem de madrugada, nos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho (zona sul do Rio). A polícia atribui as mortes à guerra pelo controle do tráfico de drogas.
Durante toda a madrugada, o tiroteio tirou o sono de moradores de várias ruas de Ipanema e Copacabana, próximas aos morros.
Mas os 22 policiais militares do 19º BPM, em Copacabana, que ocupam as favelas, não descobriram de onde partiam os disparos.
No Cantagalo, policiais encontraram uma granada acionada, no chão, que não explodiu.
Segundo a polícia, 20 homens da quadrilha do suposto traficante conhecido como Mauro teriam invadido a favela para retomar as "bocas-de-fumo" perdidas em 95 para o bando rival, supostamente comandado por homens conhecidos como Piu, Sirito e Viola.
O suposto traficante Carlos Alberto do Patrocínio Filho, 19, foi baleado nas nádegas e está no hospital Miguel Couto (zona sul). Segundo a polícia, ele é um dos integrantes do bando de Mauro.
A evangélica Lígia Carvalho Manhães, mãe de Damiana, contou que, por volta de 3h40, bateram à porta de sua casa e disseram que era a polícia. Segundo ela, quatro homens armados invadiram a casa e levaram Damiana.
Eles teriam dito aos parentes da menina para não reagirem ou saírem de casa, pois matariam todos.
A mãe reconheceu Mauro e, desesperada, pediu "pelo amor de Deus" que não matasse a menina. O pedido não foi atendido. Lígia disse que os homens queriam que Damiana os levasse à casa do namorado, Ramon Chaves, 19.
Lígia contou ainda que Roberto Francisco da Silva, 33, estava em poder dos bandidos. Ela implorou para que não o matassem dentro da casa dela.
O corpo de Silva foi encontrado com vários tiros e as mãos amarradas, em um beco.
Amedrontados, os parentes de Damiana não saíram de casa. A mãe só teve notícias da filha às 7h de ontem: o corpo foi encontrado por moradores, ao lado do de Ramon Chaves, no alto do morro do Cantagalo.
Em uma casa a poucos metros dos dois cadáveres, foi encontrado crivado de balas o corpo de Luiz Alberto da Silva, 28.
A mãe de Damiana disse que os quatro mortos se conheciam e nenhum deles teria envolvimento com drogas. Porém, segundo a polícia, o pai do namorado da menina, Geraldo Chaves, teria admitido que o filho traficava drogas.
Durante todo o dia, 50 homens dos 23º (Leblon, zona sul) e 19º BPMs vasculharam barracos e becos das favelas, mas ninguém havia sido preso até o início da noite de ontem.

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