São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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O livro do Zico

JUCA KFOURI

Mais que um depoimento, "Zico Conta Sua História" é uma homenagem sincera. Uma homenagem à bola.
Se o genial argentino Di Stéfano mandou erguer um monumento em frente a sua casa para homenageá-la e escreveu na base "Gracias, vieja", Zico preferiu escrever um livro. Como sempre, se deu bem.
Desde a origem de seu apelido "Galinho" -quando criança costumava saudar os gols de seu irmão mais velho, Antunes, com um sonoro có-có-ri-cóóóó!-, até seu desencanto pela maneira como o Congresso Nacional adulterou a chamada Lei Zico, o maior ídolo da maior torcida do mundo conta a sua história.
Peca algumas vezes, é verdade, ao contar casos saborosos ou escabrosos sem dar nome aos bois, velho cuidado dos ex-jogadores que temem parecer estar cuspindo no prato em que comeram.
Mas não poupa os cartolas em geral e o ex-presidente do Flamengo, Dunshee de Abranches, em particular, responsável pela venda de seu passe à Udinese quando estava tudo acertado para que ficasse na Gávea.
Há, também, pelo menos um pequeno desencontro.
Quando Zico conta o episódio do pênalti que perdeu contra a França, na Copa do Mundo de 1986, ele diz que pediu para Sócrates batê-lo e não foi atendido.
Sócrates, que escreveu a orelha do livro e não faz menção ao episódio, tem uma versão diferente.
Ele jamais escondeu que ofereceu a bola e perguntou a Zico, o batedor oficial de pênaltis na seleção, se ele queria bater a penalidade mesmo estando frio. Então, ouviu como resposta: "Essa é minha, Magro".
O que, aliás, é compreensível. Zico havia feito um sacrifício monstruoso para jogar a Copa, tinha acabado de entrar em campo e dera para o lateral-esquerdo Branco o passe brilhante que redundou no pênalti quando o jogo estava 1 a 1.
Seja como for, o livro vale.
Talentoso como poucos e inteligente dentro de campo como pouquíssimos, Zico revela que sempre acabava uma partida "mais cansado da cabeça do que das pernas", tamanho era seu esforço em "pensar...em tudo, o tempo todo".
Com apenas 127 páginas, o livro já está na lista dos dez mais vendidos no Rio de Janeiro, foi editado pela Editora FTD e pode ser encontrado também em bancas de jornais.
*
Sócrates gostou tanto que promete também escrever um.

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